CAPÍTULO CINCO Ela voltou?

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O barulho da correnteza de antes, deu lugar a um silêncio impenetrável. Nenhuma palavra era dita, Laura continuava como se estivesse deitada em uma cama, mas estava sobre a água. Thirza olhava para a mãe à espera de algum sinal, enquanto ela se encontrava imóvel e concentrada numa espécie de prece.

Diana e Bárbara ainda estavam de longe observando tudo, perplexas. Pensavam então em que atitude tomariam, cogitaram em descer até lá, mas acharam melhor se manterem escondidas e aguardando o que aconteceria em seguida. Talvez só tivessem feito o corpo de Bianca voltar naquele momento e continuassem tudo depois. Porém, resolveram que mais alguém tinha que testemunhar e saber daquilo, foi quando saíram e foram correndo até a casa de Helena falar o que tinham acabado de ver.

- ... E quando a água parou, começou a borbulhar só lá no meio, como se estivesse fervendo e a Bianca saiu de lá, Dona Helena! - Contou Bárbara.

- Isso é demais pra mim, meninas. Parem com essas histórias. Não é possível. - Helena colocou as mãos no rosto e fechou os olhos como se sentisse alguma dor.

Garotas, por favor, não foi nada legal vocês terem vindo até aqui para inventar um absurdo desses.

- Mas a gente não inventou, Seu Vicente. - Diana insistia. - Nós vimos, não é brincadeira.

- Me levem até lá. - Vicente cedeu.

- Eu não acredito, Vicente.

- Calma, Helena. Tudo bem. Você fica aí.

- Mas é claro que eu vou ficar.

- E Laura, ela não está em casa? - Perguntou Bárbara.

- Aquela ali nem voltou pra casa depois da aula. - Respondeu Helena - Deve estar com o namoradinho dela. Quer saber? Não me importo mais com isso!

X

Thirza e Izabel retiraram Laura da água, o sol já estava se pondo e deixava tudo ali meio escuro. Quando acordou, ela não lembrava de nada do que tinha acontecido. Mas Thirza não escondeu, ela precisava saber que tinha sido levada para o fundo do rio por uma força misteriosa, deveria saber sobre os perigos que estava correndo. Laura sentiu o medo percorrer seu corpo e pela primeira vez conheceu o arrependimento de perto, também tinha uma marca roxa em seu pescoço e ela sentia dificuldade em engolir a própria saliva. Quis saber sobre Marcelo e o que tinham feito com ele e como ele havia ficado, e quando ficou tranquila quanto a isso, Thirza e Izabel a levaram para a casa delas. Lá, Laura exigiu saber o que era possível fazer para que aqueles acontecimentos estranhos acabassem.

- Era aqui, Seu Vicente! Elas estavam aqui! - Falou Diana, ao lado de Vicente e Bárbara no riacho.

- Meninas, eu não sei nem o que dizer. É óbvio que o que vocês nos contaram não tem a menor chance de acontecer, eu só vim mesmo porquê vocês iam ficar insistindo e estressando ainda mais a Helena. Agora, por favor, não inventem mais uma coisa dessas. Tudo bem?

- A gente não mentiu! - Disse Bárbara.

Diana pede para que Bárbara não tente convencer mais uma vez. Ficando assim, eles voltam para casa, mas Diana não está conformada com aquilo, ela sabe que não estava louca, ela viu o que aconteceu e estava disposta a provar o que falou.

X

Fernando estava preocupado com o, agora, desaparecimento de Laura, ela não tinha aparecido para o encontro de sempre e ele não tinha coragem de ir até a casa dela e ter que dar de cara com os pais da garota. Ficar na cama pensando demais também não estava ajudando, ele lembrou da conversa que teve com a namorada no dia em que Bianca morreu e se recusou a estar suspeitando daquilo. Laura falava com ódio, chegou até a assustá-lo a forma como ela falava. Quis afastar aqueles pensamentos, deixou o quarto que ficava nos fundos do casarão da fazenda e atravessou o grande e luxuoso salão da entrada até seguir pelo corredor e bater à porta do quarto de Marcelo. Fernando sabia exatamente onde era o seu lugar, nunca chegava e sentava na cama, ouviu essa ordem do próprio Marcelo quando ainda eram crianças. Entrou e puxou uma cadeira que sempre ficava ali, sentou-se. Perguntou se Marcelo queria que ele fosse pegar alguma coisa, se não precisava de nada e para tudo recebeu um não. Marcelo estava calado, olhando para o teto, pensativo...

- Não foi normal o que aconteceu. - Disse Marcelo, quebrando o silêncio. - Eu lembrei o que aconteceu, Fernando. Eu estava no fundo da água, pode ser que tenha sido uma espécie de sonho ou alucinação, mas eu vi a Bianca lá, eu estive com ela. E se isso realmente aconteceu, como eu acho que sim, é muito louco, pois foi um longo tempo e eu não morri afogado.

- Marcelo, eu não tô desconfiando de você, não, mas é que isso é muito impossível de ter acontecido.

- Eu também acharia se eu fosse você. Mas eu vi, vivi e ainda sinto a Bianca. Eu ainda ouço o que ela me falou. Alucinação ou não, ela me disse uma coisa que faz todo sentido e eu já vinha desconfiando desde o início. Como ela pode, meu Deus... Mas não vai ficar assim, não vai mesmo.

- Tudo bem, quem sou eu pra desconfiar de você. Se precisar de alguma ajuda quanto a isso, pode contar comigo.

- Claro que eu posso, Fernando. Aliás, eu exijo isso.

Fernando assentiu.

- Mas você ainda não sabe o que esses ouvidos aqui escutaram. Eu tive que ficar o resto do dia inteiro aqui em silêncio para lembrar e agora é como uma mensagem gravada repetindo, repetindo, repetindo... Repetindo que a Laura, sua namorada, a própria irmã, matou a Bianca! Você acha que eu vou deixar isso ficar assim Fernando? Você acha que eu vou perdoar um monstro desses? - Marcelo estava enfurecido, de pé diante de Fernando.

Fernando começou a tremer de nervosismo, não conseguia falar nada, só ouvia os gritos de Marcelo, mas tentava, lutava por sua voz que insistia em não sair, até que conseguiu:

- Isso não faz sentido nenhum, Marcelo. Você está doido!

- O espírito da Bianca falou isso pra mim!

- Desde quando você tem contato com espíritos, cara?

- Desde que o espírito é da minha namorada e ela quer que eu faça justiça pela morte dela!

-Eu não vou te ajudar, seja lá no que você esteja pensando.

- Eu ordeno que você me ajude, Fernando. Você sabe muito bem que está aqui para me obedecer. E outra, quando você me chamou de doido eu já devia ter metido a mão na sua cara e mandado que me pedisse desculpas. Se eu estalar os dedos você e sua mãe estarão fora da fazenda com uma mão na frente e outra atrás.

- Me desculpa, Marcelo.

- É a primeira vez que você me desafia dessa maneira...

- Eu não te desafiei, e só...

- Calado! Estou falando. É a primeira vez que você me desafia dessa maneira, eu nunca mandei você fazer isso por não ser o caso, mas agora não me resta escolha.

Marcelo fez Fernando se ajoelhar e lhe pedir desculpas, ainda exigiu que repetisse um juramento de fidelidade. Fernando saiu do quarto sem saber exatamente o que estava sentindo, tinha raiva, medo, aquela sensação de humilhação e ainda pensava naquilo do qual ele também já havia desconfiado: A possibilidade de Laura ter matado Bianca. Mas ele não iria deixar Marcelo fazer nada de mal contra sua namorada, iria dar um jeito, tinha que dar.

X

Laura já conseguia lembrar de tudo o que tinha acontecido, de ter estado no fundo do rio e de ter visto a irmã, sentia novamente aquelas mãos frias apertando seu pescoço e podia ouvir a voz dela repetir que não iria deixá-la em paz.

- Por favor, Izabel! Thirza! Vocês precisam me ajudar! Minha irmã vai me matar! Ela não vai ficar em paz até me matar!

- Calma, Laura, calma! - Pediu Izabel, segurando nos obros da garota. - Ela não vai te matar, mas para isso não acontecer só vai depender de você.

- Como? Pelo amor de Deus, como?

- Você precisa trazer ela de volta.

Ela precisa voltarOnde histórias criam vida. Descubra agora