CAPÍTULO VINTE E DOIS - Paz e ruptura.

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Dois meses depois.

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- Quantos filhos?

- Dois! Um menino e uma menina. Sempre foi meu sonho!

- Vai ser lindo. Nós seremos muito felizes!

- Muito. Eu tenho certeza. Mas, olha, o nome da menina vai ser Mariana, para que possamos chamá-la de Nana.

- Assim como sua mãe...

- Sim, assim como ela.

Laura tirou a cabeça do colo de Fernando, segurou o rosto dele com as duas mãos e o beijou. Um beijo terno, mais de cuidado que de atração amorosa. Estavam sob a árvore onde se encontravam desde sempre, desde que haviam se encontrado, e esse encontro tinha sido algo mais, tinha ido além de uma mera coincidência. Naquela quermesse da paróquia, quando se beijaram pela primeira vez. Desde aquele momento já sabiam que se encaixavam naquela história de feitos um pro outro.

- Ah, tudo certo, né, você vai ser meu par no baile junino da escola.

- Claro que sim! Você acha que eu vou deixar um marmanjo qualquer dançar com minha namorada?

- Acho bom que não deixe mesmo.

- Bom, agora eu preciso ir, o trabalho na fazenda me chama.

- Não, por favor, fica mais...

- Eu adoraria, mas você sabe que não dá.

- Eu sei. Estou brincando. Na verdade não estou brincando quando digo que te quero muito e não quero que você vá.

- Bobinha.

- Nos vemos à noite?

- À noite. Te espero.

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Laura chega em casa. O pai estava na clínica veterinária, voltara ao trabalho. 

A mãe?

Bem, desde que voltou para casa depois daquela noite, Vicente teve certeza de que a mulher enlouquecera. Internou-a num hospício em Esperança e lhe fazia visitas semanais. Ela sempre queria agredi-lo quando o via, gritando que ele a traíra e era desumano o que estavam fazendo. O culpando e culpando A velha manca.

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Na fazenda, exceto pela ausência de Nana, tudo continuava como antes. Marcelo ainda não havia recuperado a memória e continuava cavalgando com Fernando todo fim de tarde. 

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Na escola, o assunto era o anual e aguardado baile junino, que marcava o início das férias. Os rapazes convidavam as garotas e formavam os pares que ficariam juntos a noite inteira.

- Até agora ninguém me convidou para o baile.

- Dane-se essa droga, Bárbara. Nós não vamos.

- É claro que vamos, Diana. Nunca faltamos ao baile e nunca ficamos sem par.

- As coisas mudam, minha amiga.

As duas fumavam na cachoeira, um velho hábito que não abandonaram. Diana tinha pesadelos constantes desde aquele dia na mata. Nunca contou para Bárbara. Nunca contou para ninguém. 

- E o Pedro? - Bárbara continuou no assunto do baile.

- O que tem aquele boçal?

- Será que ele convidou alguém?

- Talvez... Pouco me importa. Ah, vamos parar de falar sobre isso? No sábado eu prefiro estar morta que aparecer lá.

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Thirza visitava Marcelo com frequência. Estava apaixonada por ele. O rapaz sempre a recebia bem e parecia ficar feliz a cada vez que ela chegava. Naquele dia, ela teve coragem para perguntar o que há dias vinha planejando:

- Marcelo... Você me convida para o baile?

Ele a olhou. Pareceu confuso. O que a deixou envergonhada. Mas ele logo sorriu e amenizou a vergonha e o arrependimento da garota.

- Te convidar para o baile. Bem, acho que fizemos errado, então. Eu fui convidado.

- Você foi convidado?

- Sim! Você acaba de me convidar. Ou estou ficando maluco? 

- Ah, minha nossa! - E ela deu risada.

- E eu aceito.

- O quê?

- Eu aceito ir no baile com você. Seja lá o que isso signifique.

Thirza saltou da mureta da varanda onde estava sentada e se atirou para dar um abraço em Marcelo, sentado ao seu lado.

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Numa manhã na escola, dois dias antes do baile, Bárbara ignorou as opiniões de Diana e foi falar com Pedro:

- O que você quer?

A garota olhou de um lado para o outro, verificando se a amiga não estava por perto:

- Você vai vir pro baile?

- Ainda não convidei ninguém, se é isso que você quer saber.

- Bem... É isso, sim.

- Quer que eu te convide, né?

- Olha, eu quero muito vir e não tenho com quem.

- Tudo bem, eu te convido. Tá tudo uma merda esse ano mesmo.

- Espero que você não esteja me inserindo nisso.

- Se sentiria ofendida?

- Talvez. Mas ainda assim aceitaria o convite. Aliás, você ainda não me fez o convite formal.

- O que você faz aí com ele? 

- Diana? - Bárbara viu a cara furiosa da amiga quando olhou para o lado.

- Eu considero isso uma traição, Bárbara. Mas espero de todo coração que o seu assunto com ele não seja sobre esse maldito baile.

- Eu não tô afim de me envolver nessa briguinha de vocês. - Pedro dá as costas, mas recua num instante e aponta para Bárbara - Está convidada. - Então sai.

- Convidada? Ah, então é isso mesmo. 

- É, Diana, é exatamente isso! Eu procurei o Pedro e sugeri que ele me convidasse para o baile. E quer saber? Não me sinto nem um pouco arrependida por isso.

- Você é uma vaca idiota! 

- Se você não quer vir, tudo bem. Eu não sou obrigada a fazer só o que você quer e deixar de fazer o que você não quer. Eu tenho minhas escolhas!

- Eu queria só saber o que a Bianca iria achar disso.

- A Bianca está morta, Diana. Morta! Ela não influencia mais em nada nas nossas vidas!

- Tudo bem.




Ela precisa voltarOnde histórias criam vida. Descubra agora