CAPÍTULO NOVE - Vivo ou morto

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Fernando carregou o corpo de Marcelo e o colocou no porta-malas do carro. Saiu pela estrada, em desespero, dirigiu na direção da fazenda, mas parou em certo ponto, batendo sua cabeça diversas vezes contra a direção. Lembrou de toda a cena da briga e, olhando para a mata que acompanhava toda a estrada, saiu do carro e retirou Marcelo, arrastando-o até para dentro da mata e o largando lá.

Entrou novamente no carro e foi até a fazenda, chegou lá e correu para a casinha onde guardavam as ferramentas, levando uma enxada consigo e retornando ao local onde deixara o corpo de Fernando. Começou a cavar uma cova, mas no meio de todo aquele desespero, queria mais era se livrar daquilo e acabou pondo o corpo dentro da cova que ainda estava rasa. Porém, quando jogou a primeira porção de terra, Marcelo começou a tossir.

Fernando recuou e sentou-se no chão. Marcelo estava vivo:

- Tá. Calma! E agora? Pensa, Fernando! Pensa!

Ele lembrou das ameaças de Marcelo e conhecendo-o muito bem, sabia que o rapaz faria de tudo para se vingar da pior maneira possível. Voltou a ficar de pé, pegou a enxada com firmeza e continuou jogando terra sobre Marcelo, ouvindo-o gemer.

Quando chegou em casa, Fernando pegou uma bolsa que ficava em cima do guarda-roupa e começou a colocar suas roupas dentro dela. Depois de já ter arrumado tudo, sentou-se na cama e só chorou.

X

Laura pensou em ficar com Thirza e Izabel, estava preparada para dormir, mas decidiu que seria melhor voltar para casa. As coisas poderiam mudar por lá, era só questão de tempo.

- Acho melhor você esperar amanhecer. - Sugeriu Izabel, vendo Laura já de saída. - É tarde.

- Não, eu prefiro assim. Agradeço a vocês por tudo.

- Tem certeza que vai sozinha? Minha mãe e eu podemos te acompanhar.

- Olha, se realmente não for incomodar, eu aceito.

Então as duas seguiram pelo caminho que passava por dentro da mata, tinham que caminhar bastante até chegar na estrada principal, e antes disso, Thirza, com sua sensibilidade apurada, ouviu gemidos ali perto e parou para que ouvisse de onde vinham:

- Calma - Disse ela. - Tem alguém aqui precisando de ajuda. Eu ouço e sinto.- E fez sinal para que Izabel e Laura fizessem o máximo de silêncio.

Então ela fechou os olhos para se concentrar e instantes depois saiu correndo, sendo seguida por Izabel e Laura:

- O que pode ser? - Perguntou Laura enquanto corria.

- Eu não sinto nada, mas deve estar acontecendo algo de muito errado aqui para a sensibilidade dela alertar assim. - Respondeu Izabel.

Quando as duas se deram conta, Thirza estava de joelhos retirando a terra que cobria Marcelo:

- O que é isso? - Laura perguntou, assustada.

Thirza se apressou em colocar a cabeça dele para fora, e quando Laura viu, apesar da escuridão daquela noite e de ele estar machucado, conseguiu reconhecê-lo.

- É o Marcelo! - E apressou-se em ajudar. - Meu Deus, o que aconteceu com você? Quem fez isso?

As três se esforçaram em carregá-lo até a casa de Thirza e Izabel. Ele só gemia, não conseguia emitir uma única palavra, só de olhar para seu rosto dava pra sentir como aquilo podia doer. Izabel pôs uma compressa com um líquido esverdeado na testa dele e pediu para que Laura passasse uma outra nas partes mais machucadas.

- Era só uma questão de horas para ele estar morto. - Disse Izabel.

- Você consegue ver quem fez isso com ele? - Laura perguntou para Thirza.

- Estou me esforçando, mas não há resposta. Me concentro com força, mas não...

- Em breve ele próprio poderá dizer. - Concluiu Izabel.

- Mas agora os pais dele precisam saber.

- Nós podemos ir até a fazenda logo pela manhã antes de irmos para a aula.

- A gente não vai para o colégio no meio de toda essa confusão, Thirza. Eu sei quem pode nos ajudar e ainda hoje.

Algum tempo depois, Laura e Thirza estavam nos arredores da fazenda, pularam a cerca que ficava bem ao lado dos limites de mata e correram pelo pasto do gado até atravessarem a porteira que levava até o estábulo e dava acesso a casa de Fernando. Laura bateu à porta, chamando por ele.
Fernando, que até então não havia conseguido dormir, levantou muito rápido, encontrando sua mãe já de pé prestes a abrir a porta:

- Pode deixar, mãe, é a Laura.

- Mas o que essa menina quer numa hora dessas?

- Eu não sei. - E abriu a porta. - Oi, meu amor.

- Fernando, a gente precisa da sua ajuda.

Ela precisa voltarOnde histórias criam vida. Descubra agora