CAPÍTULO VINTE E TRÊS - Nada foi esquecido.

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É sábado, dia do baile.

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Izabel e Thirza agora moravam numa casa cedida por Virgílio, foi um pedido feito por Marcelo, e isso o pai nunca negaria.

A menina chegou sorridente, e a mãe logo notou a animação:

- O que aconteceu pra deixar você assim?

- O Marcelo, mãe. Eu vou com ele no baile.

- Ele te convidou?

- Não exatamente, mas o importante é que nós vamos juntos.

- Você tem certeza do que está fazendo?

- Como assim?

- Essa de estar apaixonada pelo rapaz que é herdeiro dessa fazenda e ainda por cima está sem memória.

- Eu estou gostando dele. Não precisa dar nada certo. Está bom do jeito que tá.

- Eu só estou um pouco preocupada.

- Eu entendo, mãe. Mas fica tranquila, tá? Vai ficar tudo bem.

X

Com um cigarro aceso, Diana seguia na direção da cachoeira. Estava com muita raiva de Bárbara. Mas não sentia ódio, achava a amiga uma estúpida.

- Vocês vão ver só o que vai ser esse baile.

Ela olhou por cima das árvores, o céu alaranjado do fim de tarde, dentro da mata já começava a escurecer. Tragou uma última vez e atirou a bituca entre algumas pedras.

Não muito longe dali, Marcelo e Fernando apostavam corrida, coisa que mais faziam desde que Marcelo reaprendera a cavalgar.

- Quem diria, você está ganhando todas, ein! - Disse Fernando, claramente deixando Marcelo levar vantagem.

- Viu só? Eu sempre ganho.

- Eu te falei que em breve você estaria melhor que eu.

Os dois pulam do cavalo e ficam um do lado do outro, olhando para o poente. A luz batendo em seus rostos.

- Eu também te falei uma coisa. - Marcelo rompeu o silêncio.

- O quê?

- Não está lembrado? 

- Você deve ter me dito tantas coisas, Marcelo, que fica difícil lembrar de tudo.

- Então deixa eu te ajudar.

- Eu agradeço. - Fernando diz em meio uma risada.

Sem desviar os olhos do sol que estava se pondo, Marcelo proferiu as seguintes palavras: 

- Eu disse que iria acabar com você.

Fernando olhou assustado para o lado. Marcelo continuava  imóvel, apenas com um sorriso amedrontador no rosto. 

***


- Agora eu vou fazer com os dois! Eu quero matar ela, você, sua mãe e todas as pessoas que você ama!

***

Era como se aquele momento fosse um extensão, como se voltassem no tempo e estivessem novamente naquela casa, na beira da piscina gritando um com o outro.

***

- Eu acabo com vocês antes que possam dar um único passo.

***

Era como se o tempo não tivesse passado. Estavam novamente frente a frente. 

Fernando e Marcelo.

Nada do amor e da amizade. Nada de Os dois eram como irmãos

Um juramento de morte recíproco.

- Não foi difícil. Eu sempre fui muito esperto. Diferente de você, Fernando, um perfeito cavalo. Fingi que tinha perdido a memória e dei uma de bobão. Vocês todos são mesmo um bando de otários. Todos, sem exceção. 

Fernando tremia. O sol desaparecia. Toda a luz iria embora em poucos minutos.

- Eu só precisava de um momento oportuno. - Prosseguiu Marcelo. - E ele veio. Veio durante aquela chuva. Foi aquele bezerro preso num buraco e a sua saída. Eu continuei lá até Nana ir dormir. Depois de um tempo conferi se a velha realmente dormia. Sim, desfrutava do sonos dos justos. Coitada. O resto foi simples, peguei o travesseiro e e pressionei sobre o rosto dela. Ela acordou, mas não podia ser mais forte que eu. Não podia ser mais forte que meu desejo de te ver assim, Fernando, de joelhos diante de mim e chorando. Ela se debateu durante um tempo, que nem os frangos que ela matava torcendo o pescoço, sabe... Segredo nenhum. Assim eu matei a querida Nana.

- NÃO! - Fernando gritou tão alto e com tanta força que parecia existir outro ser dentro dele. E rapidamente se pôs de pé e partiu pra cima de Marcelo. - MALDITO! DESGRAÇADO! VOCÊ VAI PAGAR PELO QUE FEZ! - 

Marcelo caiu no chão, cortou o lábio por conta do impacto. Quando deu por si, Fernando já estava por cima dele marcando um soco.

 Os cavalos ficavam exaltados.

Fernando está com os olhos arregalados e cheios de raiva. Ofega.

- Eu te odeio. - Ele repetia. - Você não é gente, você é um demônio.

- EU TE FALEI! - Esbraveja Marcelo. -Eu te falei e lembrei agora pouco que iria acabar com você. E eu vou acabar com você! - Num movimento muito rápido, Marcelo puxa um punhal de sua cintura e o crava no pescoço de Fernando. 

Um dia eles foram foram duas crianças que brincavam juntos, mesmo com suas diferenças, quem não as tem? Foram felizes. Aprenderam montar a cavalo juntos, assistiram ao parto de uma vaca, Fernando conseguiu ver tudo até o final, mas Marcelo não aguentou. Fernando conversou com Marcelo lá no estábulo quando o mesmo sofreu sua primeira decepção amorosa., estava com vergonha e não queria que ninguém  além de Fernando soubesse que estava passando por aquilo.

Cresceram juntos, aprenderam muitas coisas juntos... 

Um do lado do outro. 

Quando a rota mudou? Quando passaram de bons amigos e companheiros para inimigos mortais?

Inimigos mortais...

O começo de uma noite de sábado. O corpo de Fernando sem vida aos pés de Marcelo. Os cavalos, tão inocentes, eram as únicas testemunhas.

Sangue escorrendo do pescoço, nem dava mais para ver uma parte limpa da faca.

- Eu prometi e cumpri.

Ela precisa voltarOnde histórias criam vida. Descubra agora