CAPÍTULO VINTE E SETE (Último) - Irmãs.

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Izabel caminha pelo corredor de uma clínica. Passos silenciosos. O ambiente claro. Luz branca. Tudo muito branco. Só o verde de uma planta num vaso, a prancheta de funcionários, a cor dos cabelos deles, destoam de toda aquela claridade. Agora é possível ouvir cada passo de Izabel que, acompanhada de uma moça trajando um uniforme que sugere ser de enfermeira, se dirige até a porta, que lhe é aberta e revela Helena. É o asilo onde ela foi internada.

- Boa noite. - Diz Izabel, serena.

A enfermeira deixa as duas sozinhas.

- Quem é você? - Pergunta Helena.

- Estranho não lembrar de mim. Estranho, mas compreensível.

- Você trabalha aqui?

- Não.

- Que bom, pois você me parece mais uma bruxa.

- Bruxa... Não gosta delas, certo? Foi capaz até de matar uma.

Helena não entende onde aquela mulher está querendo chegar, aliás, gostaria de saber quem é ela e o que faz ali.

- Do que está falando? Está me acusando de matar alguém?

- Gostaria de ouvir uma história?

- Não, eu não quero ouvir história nenhuma! Eu gostaria mesmo é que você saísse daqui. Já não me basta estar nesse inferno?

- Se você está no inferno é para ser atormentada. Todo caminho é uma escolha própria.

***

Era como se todo o corpo de Marcelo tivesse congelado. Diante da garota que chegou a confundir com Laura, se viu numa confusão entre medo e esperança. Seria mesmo Bianca ali, viva? Ou ele teria morrido e agora seus espíritos se encontravam para partirem juntos para o outro plano?

Um grande pedaço de concreto cai no meio da sala e desperta Marcelo de suas suposições, se encolhe ainda mais embaixo da mesa. Ela ainda está ali. A dúvida e o medo também.

- Bianca? - Marcelo sussurrou em tom duvidoso, mas foi o suficiente para despertar ou aumentar a força daquele fenômeno sobrenatural que estava apavorando todos que se encontravam trancados no colégio em ruínas e que agora estava se tornando um aquário, a água subira tanto que aqueles que não sabiam nadar já eram corpos boiando.

Uma torrente rompeu completamente o teto e saiu arrastando Marcelo, a suposta Bianca, todos os cadáveres brancos e gelados, e todos os que ainda lutavam para sobreviverem.

Era como se um novo rio houvesse se formado.

***

Descalça. Suja. Emocional e psicologicamente abalada.

Laura, na beirada do rio, treme pelo frio que faz naquela noite, pelos acontecimentos que se sucederam e pela ideia fixa que não sai de sua cabeça: É hora de ir.

Um passo de cada vez, ela vai deixando seu corpo ser abraçado pela água.

É hora de ir.

***

A jarra de água quebra e o líquido escorre.

- É hora de saber. - Diz Izabel. - Hora de tomar consciência. De entender e de sofrer mais ainda...

"Quando você acertou aquela pedra na cabeça da velha manca, matando-a e depois jogou o corpo dela no rio, por ser uma feiticeira, sim, ela era uma feiticeira, ou uma bruxa, como vocês preferem, seu espírito continuou convivendo entre os vivos. Seu espírito tinha vontades e fez seu último pedido: Voltar. Ela queria viver novamente, mas como espírito não poderia fazer nada ao seu favor. Precisava de alguém para ajudá-la, alguém vivo e em quem pudesse confiar. Depois de morta ela veio até mim, o espírito de minha mãe me procurou. Sim, a velha manca é minha mãe. Quase você matou a mim também, pois eu não podia acreditar que ela estava morta! Eu talvez tivesse a idade das suas filhas... E ela veio me pedir ajuda. Eu tinha que aprender e dominar tudo o que estava escrito no caderno de sabedoria. Eu estudei incansavelmente até estar pronta para ajudá-la. O que para ela era uma ajuda, para mim era uma vingança."

Ela precisa voltarOnde histórias criam vida. Descubra agora