O beijo da morte.
Sentia como que dois enormes espinhos penetrarem sua aorta e então apagou.
Depois se viu nos braços de Thomas e ele falava baixinho:
— Beba, querida... beba.
Anna sentia um líquido quente escorrer-lhe garganta abaixo e, por vezes, até mesmo por seu rosto.
Quando abriu os olhos viu uma ferida extensa no pulso de Thomas já quase cicatrizada. Imaginou que poderia ser um devaneio seu, então se levantou. Quando se viu de frente para o povo novamente, a primeira coisa que notou era que se sentia extremamente superior. Sentia-se, verdadeiramente, dona de cada uma daquelas pessoas.
Ao voltar os olhos castanhos para Thomas compreendeu: seu coração, pela primeira vez, não pulsou mais forte ao vê-lo. Seu coração simplesmente não pulsou.
Um mínimo de sentimento que lhe restava quase fez com que ela chorasse, mas isso foi esquecido quando a coroa incrustada de pedras vermelhas foi posta sobre sua cabeça e todo o povo se ajoelhou aos seus pés.
Sentia-se poderosa agora. Não era mais a menina insegura de Pendiham. Não era a moça que chorara nos quartos de Santhomé. Pessoas como ela era agora simplesmente não choravam.
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— Imaginava isso totalmente diferente.
Thomas alargava as fitas do espartilho dela com os dedos habilidosos de um homem que já ajudara muitas vezes as mulheres a se libertarem das roupas complicadas e antiquadas.
— A cerimônia? – perguntou, pouco interessado.
— Nossa primeira noite, Thomas.
Ela segurava a parte frontal ainda bem colada aos seios, dando uma impressão de maior fartura, sendo que seus seios já eram fartos naturalmente. O espartilho fazia o corpo de Anna ainda mais exuberante: os seios e a cintura acentuados consideravelmente, e pele sempre bem cuidada, tudo a seu respeito, que já era muito bonito, parecia agora ter um novo encanto. Algo que nem ela mesma conseguia compreender.
Anna sentiu o saiote escorregar pelas pernas e só então soltou o espartilho.
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Thomas é um bom amante, como bem me recordo.
Amei-o certa vez... amei-o muito. E talvez ainda sobre um resquício desse sentimento que nutri anos a fio por ele. Portanto, foi difícil para eu passar para o papel toda a suposta paixão dele por Anna, o que espero não ter interferido no entender da história.
Quando humano, Thomas foi o primeiro homem que conheci. Foi o homem para quem entreguei minha virgindade e o homem que reinou ao meu lado em Santhomé... E agora ele eternizava a maldição à qual eu o submeti.
"Observando" os avanços e declínios do reino que era meu por direito e sangue, enciumei-me diversas vezes, principalmente quando o via nutrido e ligeiramente humanizado.
Naquela primeira noite com Anna no quarto vermelho (que também fora meu um dia), Thomas sentia, sim. E quando sussurrou baixo nos ouvidos dela "eu amo você", falava no mesmo ritmo que as fracas batidas do coração que pulsava devido ao sangue dela.
Nos raros momentos em que ele realmente sentia, ele a amou. Quase com a mesma intensidade com que me amou certa vez.
Quase.
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Antes da Eternidade
Vampire[Concluída] Anna poderia ser personagem de um conto de fadas: a criada do castelo que se casou com o príncipe herdeiro, logo coroado rei. Mas por que continuar com ele se o meio-irmão, apesar de petulante e aparentemente doente a maior parte do temp...