Quando Anna entrou na sala onde o homem a esperava notou o quanto ele estava nervoso. Tinha as mãos inquietas e estava aparentemente preocupado. O homem era Edgar; Anna o conhecia desde menina, já que seus pais eram grandes amigos de longa data.
Saudou-o com a mesma familiaridade de sempre, apesar de ter um sorriso preocupado nos lábios.
— Anna! – a voz do rapaz demonstrava ainda mais o nervosismo – Digo majestade... perdoe a intromissão a esta hora, mas eu realmente precisava vê-la. As coisas estão fugindo do meu controle...
— O que houve? - sabendo que Edgar não era dado a exageros, via-se cada segundo mais preocupada.
— Creio que há alguém tentando sabotar nosso rebanho – explicou, aturdido – A senhora sabe, temos um dos maiores que se tem notícia em todo o território, mas mais da metade das ovelhas estão mortas, senhora. A cada dia encontro mais e mais delas beirando a morte, ou já sem vida. E são... eram... todas saudáveis para morrerem de repente. A senhora bem sabe como são bem cuidadas.
Embora se questionasse o motivo que alguém teria para sabotar o rebanho, perguntou simplesmente:
— E o que posso fazer por você?
— Envie um de seus homens para a vigília, por favor. Assim poderemos pegar o responsável para uma punição.
Anna não via porque não. Um ou dois homens não lhe fariam falta na vigília de uma noite, enquanto para o pobre Edgar, aquela massiva perda de ovelhas trazia um imenso prejuízo.
— Mandarei dois deles. Um o servirá durante o dia, o outro durante a noite. Acha que solucionaremos seu problema assim?
— Eu assim espero! Muito obrigado, Anna... Eu sabia que poderia contar com a sua bondade.
Ela sorriu vagamente, e depois perguntou:
— Já tem muito tempo que isso acontece?
— Alguns meses, senhora. Eu achei que poderia ser algum tipo de doença, mas estou certo de ter ouvido mais de uma vez invadirem o celeiro. Eu tentei pegar o intruso, mas jamais cheguei a tempo.
— Agora seu rebanho estará protegido.
— Deus a abençoe.
•♦•♦•♦•♦•♦•
Anna sentou-se diante da lareira. Ainda não nevava, mas o vento gélido anunciava a chegada da neve e ela torcia para que esta chegasse o quanto antes. O tempo se fazia mais ameno quando o gelo cobria o chão, mas o frio parecia mais enregelante enquanto as nuvens escuras permaneciam carregadas no céu.
Mesmo consciente de que o fogo diante de si já quase morria, os pensamentos devanearam por algum tempo nos problemas do seu velho amigo pastor e as dificuldades que ele encontrava. Seguindo as veredas misteriosas do pensamento, em determinado momento chegaram ao cunhado.
As palavras que ele dissera antes que fossem interrompidos eram exatamente as que desejaria ouvir de um homem se ainda fosse uma mulher solteira. E não desejaria que fossem ditas por um homem qualquer. Desejaria que Thomas as dissesse. A consciência disso deixava Anna estranhamente inquieta. Sentia falta de John, é claro. Ele a tratava tão bem quanto era tratado por ela, mas o irmão...
...por mais que tentasse negar, era o irmão a quem ela desejava e amava. E tinha uma estranha certeza de que necessitava estar ao lado dele para sempre.

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Antes da Eternidade
Vampire[Concluída] Anna poderia ser personagem de um conto de fadas: a criada do castelo que se casou com o príncipe herdeiro, logo coroado rei. Mas por que continuar com ele se o meio-irmão, apesar de petulante e aparentemente doente a maior parte do temp...