O salão não estava tão cheio quanto na cerimônia dela. O número de pessoas não chegava nem mesmo à metade.
Ao que parecia, apenas aqueles de maior "poder" estavam presentes, ou então aqueles que tinham alguma relação com as posições mais elevadas de Santhomé.
Enquanto Morgana corria nervosamente os dedos pelo punho de sua adaga, podia observar o salão ricamente decorado e, nele, algumas faces conhecidas.
Via seu pai na primeira fileira conversando em um murmúrio inaudível com Isabella. Duas fileiras atrás estavam Beltane e Henry, perfeitamente calados. Em uma fileira bem ao fundo e entre poucos rostos desconhecidos, via John que observava os próprios dedos cruzados sobre o colo. No altar, ao seu lado, Anna permanecia com a face lívida, como se nada acontecesse ou estivesse prestes a acontecer. Como se, em breve, a filha não fosse matar o meio-irmão que mal conhecia e se dizia apaixonado por ela. Enquanto Morgana observava a mãe, viu-a franzir levemente o cenho ao modificar momentaneamente o olhar para o centro do salão, ao fundo. Ao fazer o mesmo viu uma mulher ruiva e de belos olhos violeta que eram vistos mesmo à distância. A estranha estava ricamente vestida e observou-as com um sorriso enigmático, sentando-se sozinha na última fileira.
À um olhar inquisitivo de Anna, Thomas olhou para trás e logo se virou para frente e abaixou a cabeça. Era um claro sinal de respeito a alguém a quem ele conhecia e era de um nível muito mais elevado ao que ele pertencia. Depois de uma breve análise da exuberante estranha, Anna voltou a concentrar-se no próprio mundo, parecendo mal notar seus convidados enquanto mantinha-se de pé ao lado da filha e o olhar permanecia perdido; Então as portas se abriram.
Gabriel entrou inteiramente vestido de negro. Os olhos da princesa fixaram-se no rapaz que parecia sério demais e tão concentrado em Morgana quanto ela estava nele. Nenhum dos dois ousou olhar para os lados enquanto ele, vagarosamente, caminhava na direção do altar. Em sua absoluta concentração, a princesa dividia sensações: longinquamente via-o como o irmão ou amante humano que a tomara dias atrás, mas seu instinto de caça e a fome que sentia agora faziam com que ansiasse mais fortemente para a aproximação de seu sangue... a aproximação dele para que enfim pudesse acabar com sua fome.
Ele subiu cada degrau que os separavam tão devagar que parecia que o tempo já não passava. Anna recebeu-o primeiro e beijou-lhe gentilmente a testa. À um gesto da mãe ele andou até Morgana. Notando que ele diria algo, ela resolveu se adiantar. Talvez perdesse a coragem. Talvez uma palavra dele pudesse fazê-la vacilar e não cumprir o que, agora, era seu dever.
— Apenas feche os olhos, Gabriel...
Ele obedeceu.
Com a proximidade, tudo ficava ainda mais difícil. A felicidade dele a afetava e, com muito esforço, conseguiu isolar os sentimentos humanos. Deixou que as presas finas aparecessem e aproximou os lábios do pescoço de Gabriel.
O que se passou então foi muito rápido:
Ao mesmo tempo em que ela conseguiu morder o pescoço dele, sentiu a adaga que trazia na cintura ser puxada. Perdeu completamente o controle sobre como evitar os sentimentos dele, mas quando o que Gabriel sentia voltou a invadi-la, ao invés da alegria de um momento antes, sentiu um terror absoluto que, em outra situação, a paralisaria como parecia fazer com ele. Assustada com o que poderia realmente estar acontecendo, Morgana retirou as presas do pescoço do irmão e afastou-se para poder ver o que acontecia.
— Não! – a voz cheia de fúria era de Anna.
Mas era tardia.
Gabriel havia fincado a adaga que Morgana usaria para compartilhar de seu sangue com ele no peito da menina. Imediatamente as presas dela se retraíram e ela caiu sobre os joelhos chorando debilmente.
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Antes da Eternidade
Vampirgeschichten[Concluída] Anna poderia ser personagem de um conto de fadas: a criada do castelo que se casou com o príncipe herdeiro, logo coroado rei. Mas por que continuar com ele se o meio-irmão, apesar de petulante e aparentemente doente a maior parte do temp...