XIII - Alvorada

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    Anna acordou antes do sol. Apoiou os braços no peito do companheiro e repetiu a meia voz seu nome até que ele acordasse.

— Podemos esperar a noite chegar... - ele falou baixo, sem querer abrir os olhos.

— Não, não podemos. Temos que ir, Thomas... agora.

    Ela deitou o corpo esguio sobre o dele e alternava beijos e sussurros em sua orelha.

— Vamos... levante-se... vista-se... temos que ir!

    Ouviram alguém bater na janela e perguntar algo sobre a feira do dia. Anna, ainda nua, levantou-se e passou a se vestir depressa, resmungando baixo:
— Já estão dando falta deles! Vamos, levante-se. Temos que correr.

    Lá fora a rua parecia movimentada. Ouviam patas de cavalo batendo no chão, pessoas conversando e um vai-e-vem de carroças.





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    Thomas parecia infantil quando se alimentava. E, de certa forma, Anna gostava daquilo. Enquanto se vestiam ele sorria, divertindo-se com a ação, com o perigo proporcionado pelo momento. E mesmo diante da urgência de partir, por vezes agarrava-a e ameaçava despi-la para jogá-la novamente na cama.

    Ambos riam baixo e agiam como dois adolescentes apaixonados. Sei que, de algumas maneiras, Thomas via a mim em Anna naquela manhã, o que não pôde deixar de gerar uma ponta de orgulho dentro do meu peito.

    Eu sabia que ele evitara contar à Anna sobre a possibilidade de procriarem por conta da nossa história com nossas filhas, que Thomas temia, mais uma vez, aquilo que pudesse criar. Ele tinha, afinal, uma experiência que não lhe trazia boas memórias e é compreensível que vacilasse a arruinar o laço que finalmente encontrara por algo com um destino tão duvidoso.





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    Ela beliscou o quadril dele. 

    Era uma maneira gentil e eficiente de pedir que ele se afastasse sem usar palavras. Muito útil quando ambos estavam com os lábios ocupados, como naquele momento. Ele ajudou-a a amarrar o espartilho, ajustando a própria espada na cintura no momento seguinte, enquanto via-a se afastar para apanhar os mantos.

— Mantenha a espada empunhada. Ainda precisamos chamar os cavalos.

     Ele confirmou com um aceno de cabeça e correu para a porta assim que vestiu seu capuz.

— Você fica aqui! – disse em tom autoritário – Eu saio e chamo os cavalos. Posso com quem tentar entrar... não estão preparados. Não saia antes de notar que já montei, entendido?

Antes da EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora