VI - Em direção ao Destino

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    A lua cheia quase não ajudava na iluminação da estrada coberta pela névoa marítima. Embora amedrontada, Anna resistiu muito antes de falar algo. Não queria parecer uma garota mimada e covarde.

— Thomas, não vejo mais que um metro a minha frente.

    Mesmo que ele estivesse a certa distância, Anna pôde notar que ele sorria. Aproximando o cavalo do dela, ele estendeu uma das mãos e apanhou a rédea.

— É apenas falta de costume. Levarei seu cavalo junto ao meu, não há o que temer.

— E para onde vamos?

— Santhomé.

— Fica muito longe?

— Poucas noites daqui.

— São suas terras? As que o seu pai devolveu?

— É meu reino. Foi tudo o que meu pai me deixou. Lá vivem místicos. Já viviam antes de eu ali reinar...- Calou-se por algum tempo, para depois continuar - Não me faz muita diferença. Quase não os vejo, a não ser quando festejam.

    Continuaram viajando sem pronunciar uma palavra por um longo tempo. Até Anna romper o silêncio mais uma vez:

— O que faremos quando o sol aparecer? – ela perguntou, com ar preocupado.

— Quando o céu começar a clarear, nós vamos parar. Cobrirei-me com muitos panos. Assim, ficarei protegido.

    Anna estranhava a indiferença com a qual ele a tratava agora. Antes, na corte de John, ele dispensava a ela um carinho desmedido, carinho este que parecia ter desaparecido no momento em que deixaram Pendiham. Ainda achando que pareceria irritante ao fazer tantas perguntas, não pôde se conter:

— O que há de errado, Thomas?

    Observando-a pelo canto do olho enquanto guiava o cavalo, ele retrucou de forma bruta:

— Porque a pergunta?

— Porque me parece que agora que não sou mulher de outro homem, perdi a importância. - Anna começava a notar agora que sua língua podia ser mais ferina do que estava acostumada quando era uma criada subserviente - É isso? Agora que me tornei possível e fácil para você, perdi a importância?

    Ele parou os cavalos e saltou. Ofereceu a mão para Anna, que mesmo receosa, desmontou.

— Jamais imagine uma coisa dessas – disse ele com uma voz inesperadamente terna, olhando profundamente nos olhos da jovem – Não pense que sou como um homem qualquer que perde todo o encanto pelo que conquista assim que as batalhas se acabam. Só estou cansado.

    Ela respirou profundamente.

— Então é assim que me vê? Como um objeto conquistado por um cavaleiro que coloca mais apreço no que ganha em campo?!

— Você é mesmo difícil de lidar... - ele disse com um sorriso sincero e uma voz que demonstrava satisfação, não irritação – Mas sei o que quer ouvir e direi o tempo todo se for necessário. Eu amo você.

    Ela sorriu, desvencilhando-se dele para apanhar um pano entre suas coisas. Estendeu-o no chão, e Thomas entendeu que ela queria descansar.

    O céu estava limpo e estrelado, o que significava que não haveria chuva O homem apanhou um longo manto, cobriu a cabeça com um capuz, e as mãos com grossas luvas e deitou-se ao lado de Anna no pano estendido sobre a grama.

    Durante muito tempo ficaram apenas se olhando.

— Me desculpe... - ele suspirou, contrafeito - Desculpe não poder tocá-la esta noite. – ele disse, finalmente, como se precisasse de coragem para tanto.

Antes da EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora