Anna abriu os olhos de vagar. Com certeza já era dia. Thomas ainda estava deitado sobre seu colo. Com muito cuidado para não acordá-lo, deslizou a cabeça dele para o lado e afagou-lhe os cabelos por algum tempo.
Ao se sentar na cama, puxou os próprios cabelos para frente e começou a trançá-los como de hábito. Então, notou que aquilo não a agradava, então soltou-os novamente e balançou graciosamente enquanto caminhava até o outro lado do quarto, à procura de suas roupas íntimas, mas também de repente notou que não as queria vestir.
Queria ficar nua. E não se envergonhava daquilo. Tinha um belo corpo, orgulhava-se dele e estava em seu quarto, em seu castelo.
Parou de frente para as portas as quais vira Beltane abrir a noite passada. Quando tocou a argola de ferro que as abriria, ouviu uma voz estranhamente calma dizer:
— Não faça isso.
Olhou para trás. Thomas ainda mantinha os olhos fechados, mas certamente estava acordado.
— Pensei em talvez ir lá fora e...- começou, em um tom de explicação.
— Anna... - ele abriu os olhos – Ainda não entendeu o que está acontecendo aqui? Agora você é como eu e cada um deste reino. É um ser da noite.
— Um... ser da noite? – repetiu, confusa.
— Aprenderá aos poucos como se portar. Sua primeira lição é jamais se expor diretamente à luz do sol.
— Mas...
— Venha... deite-se novamente -. Ele fez um gesto, chamando-a -. Logo a noite chegará...
Ela estava cansada. Não demorou a adormecer abraçada a ele.
•♦•♦•♦•♦•♦•
Thomas caminhava apressado e, ainda afetado pelo sangue recém-sugado que corria morno em suas veias, um ligeiro sorriso contornava seus lábios.
— Vem... tenho uma coisa para te mostrar.
— O que? – perguntou curiosa, tentando acompanhar os passos dele enquanto era puxada delicadamente pela mão.
Ele apenas a observou e voltou a sorrir, com mais satisfação dessa vez. Foi quando a brisa da madrugada pôde levantar os cabelos dela que pareceram quase etéreos, como se dançassem movidos por fios invisíveis.
Ele continuou a sorrir, puxando-a agora mais devagar e com mais calma.
Anna, notando que estava em um imenso corredor a céu aberto que ligava as duas maiores torres do castelo, estacou.
— O que houve? – Thomas pareceu preocupado ao ver a expressão no rosto dela.
— Já ouvi histórias sobre esse lugar.
— Este lugar?
— Sim... aqui.
Ele a envolveu pela cintura, fazendo com que se encostasse ao parapeito.
— O que ouviu? – os lábios frios roçaram na orelha dela levemente.
— Quando eu era menina, costumava me sentar com John e as outras crianças, bem quietinha, para poder ouvir a música dos bardos. Mais de uma vez, ouvimos as histórias de um reino... um reino que certa vez fora perfeito, mas que acabou coberto de escuridão.
— A perfeição não existe, Anna... nada é perfeito. Nunca foi. E histórias de bardos são apenas isso: histórias para fascinar crianças.
— Mas as torres...
— São apenas histórias.
Ela pensou um pouco. Então sorriu levemente.
— Eu aprendi isso, Thomas. Aprendi, no momento em que compreendi que não deveria ter confiado em você.
Ficaram calados. Com Anna à sua frente, apoiada no parapeito, Thomas colou o corpo ao dela e pousou o queixo em seu ombro.
— Vê? Tudo... tudo isso é seu agora.
— Isso pouco me importa.
— Anna, não está compreendendo. Esse lugar é seu. Você cuidará dele. Eu não tenho esse poder.
Ela suspirou, analisando pela primeira vez no que sua vida havia se transformado, mas sem ainda tentar desvendar completamente o que havia por trás das palavras dele.
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Antes da Eternidade
Vampir[Concluída] Anna poderia ser personagem de um conto de fadas: a criada do castelo que se casou com o príncipe herdeiro, logo coroado rei. Mas por que continuar com ele se o meio-irmão, apesar de petulante e aparentemente doente a maior parte do temp...