XX - Ocaso

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— Princesa Morgana! Eu não imaginaria a realidade de todos aqueles boatos do povo... e agora, veja só, você é um deles!

    Até ouvir a voz de Henry, Morgana estava pensativa. Os olhos já sem vida perdiam-se na paisagem de Santhomé que parecia quase uma pintura entre as cortinas de veludo da biblioteca real.

— O que faz aqui, Sir Henry? – ela parecia descontente em ter que recebê-lo – Não deveria ter partido com Gabriel?

    O rapaz sorriu, deu de ombros e fechou a porta atrás dele.

— Eu não posso partir. Virei uma lenda também.

    A moça desviou os olhos da paisagem pela primeira vez e observou-o com atenção.

— ... minha mãe...?

— Sim. – Interrompeu – E se lhe interessa, príncipe Gabriel não partiu. Nem mesmo John.

— Deveriam partir ao levantar do sol desta manhã. - A voz dela não soou preocupada ou exaltada. Já parecia indiferente.

— Eu temo que a senhora Anna tenha planos diferentes dos teus, princesa. Ao que me consta, na noite passada Sir John também despertou.

    Morgana apertou os olhos e observou-o com desdém.

— Você parece patético usando essas palavras enfatizadas achando que são cheias de ambiguidades, como se alguém estivesse nos ouvindo às espreitas! Afinal, o que o trouxe aqui, lacaio de Pendiham? Por que veio me perturbar?

    Apesar da maneira rude de falar com o rapaz, muito diferente dos bons modos usados sempre por ela, Morgana continuava a ter as mesmas feições angelicais e delicadas de antes.

— Vim justamente como lacaio de Pendiham – ele se curvou em uma reverência cheia de ironia -. O príncipe Gabriel está desde cedo nas escadas frontais do castelo. Não há quem o tire dali. Ele diz aguardar o seu regresso. Sabe-se lá porque ele enfiou na cabeça que você não está mais no castelo.

— Eu não voltei ao meu quarto -. Explicou-se, parecendo irritadiça por ter feito isso um segundo depois.

— De qualquer forma, ele diz que só sairá de lá quando a senhorita regressar. E, perdoe a intromissão do lacaio, acredito que tenha de ser logo, se não o quiser ver como lanche do seu povo.

— É proibido qualquer tipo de caça dentro de Santhomé -. Retrucou, voltando novamente os olhos para o horizonte além das janelas da biblioteca.

— Ora, essa... diga isto ao seu povo, não a mim!

— Ele deveria ter partido. Prometeu que o faria.

— Lady Morgana, sei que pareço irritantemente abusado, mas se ele for servir de alimento, sirva ao menos como alimento para a realeza. Ele tem sangue azul... seria um desperdício.

    Ela direcionou um olhar de desprezo para ele e, notando que ele não sairia, saiu ela sem dizer nada mais.





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Antes da EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora