VII - Antes da Eternidade

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    Ao chegarem aos portões do castelo, Anna surpreendeu-se com a quantidade de gente que circulava. Todos encapuzados como Thomas. Cada um dos habitantes, parecia seguir Anna com os olhos, o que a fazia se sentir desconfortável e ameaçada, embora tivesse a proteção do próprio monarca.

    Algumas pessoas chegaram a se ajoelhar aos pés do cavalo de seu rei, outras faziam longas reverencias enquanto ele passava, sem nunca tirar o olhar ameaçador da moça descoberta.

    O casal desmontou no pátio, aos pés de uma longa escada. De dois em dois degraus haviam soldados também encapuzados empunhando diversas armas, poucas das qual Anna conhecia. Assim que chegaram ao topo, os dois últimos soldados cruzaram duas enormes armas – muito semelhantes às que eram usadas na Justa – sobre as portas duplas de madeira. Assim que fizeram, Anna pôde observar o (bizarro) brasão entalhado na porta por detrás das armas onde, em uma gravura assustadoramente realista em seus detalhes, um abutre, uma cobra, um morcego e uma hiena pareciam deliciar-se ao comer um leão morto.

— Pode me mostrar seu rosto, senhor? – perguntou um dos soldados.

— Sabe que não posso – respondeu o rei rispidamente.

— E como pode nos provar que é nosso rei? – perguntou o outro soldado.

    Então Thomas desembainhou uma espada da qual Anna jamais vira semelhante.

    Empunhou-a sem ameaças, apenas para mostrá-la a eles.

    A espada, que Anna ainda não havia notado – e não entendia como –, era muito bem talhada. Sua lâmina refletia perfeitamente as pessoas que se aglomeravam silenciosas aos pés da escada. Ao invés de terminar apenas com uma leve separação no punho, a arma tinha dois novos gumes de cada lado do principal, de tamanho menor.

    Imediatamente os homens descruzaram suas armas e Thomas, ao invés de avançar para as portas do castelo que os guardas empurraram na seqüência, virou-se para o povo que se tumultuava lá embaixo.

    Guardou a espada e abraçou Anna pela cintura.

— Esta mulher que aqui está ao meu lado será a rainha de vocês em breve – o silêncio sepulcral permaneceu -. Mesmo antes da cerimônia ela terá de ser tratada com respeito exímio. Mais respeito que já tiveram por mim ou por Skaila um dia, entenderam? – Ele olhou nos olhos dela, fazendo Anna realmente acreditar que ele estava apaixonado – Esta mulher é Anna de Pendiham e em breve se tornará Anna de Santhomé.

    E o silêncio permaneceu. Ao invés de aplausos ou vaias, Anna os viu apenas abaixarem a cabeça em um consentimento. Todos eles, ao mesmo tempo. E Thomas murmurou em seu ouvido:

— Gostaram de você.

    Quando entraram no castelo, Anna ficou admirada. Embora um cheiro de mofo tomasse o lugar que parecia não ser iluminado pelo sol havia muito tempo, era sem dúvida a construção mais majestosa que já havia visto. Logo no hall uma enorme parede estava coberta de quadros de lindas mulheres. A decoração era de ótimo gosto, sempre ressaltando tons de vermelho ou vinho.

    Uma jovem dama de companhia – que Anna reconheceu apenas pelo modo como a menina olhava o rei e sua companheira, porque se vestia como alguém de altos poderes aquisitivos – extremamente branca, de cabelos muito loiros e olhos de um azul escuro, aproximou-se do casal. Thomas beijou a testa de Anna antes que ela dissesse algo:

— Tome um banho e descanse querida. Teremos muito a fazer nos próximos dias. Vejo-a... - parecia vacilante – em breve – e para a menina -. Cuide bem dela.

Antes da EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora