O salão estava lotado.
Apinhado de gente nobre e elegante, com roupas cheias de símbolos bordados a ouro. Os tons de vermelho, vinho e roxo predominavam, como na decoração do próprio castelo, mas Anna não viu nada disso. Nem viu que os olhos de cada um dos presentes estavam voltados a ela. Só via Thomas, ao longe, no fim do longo tapete que se estendia sob seus pés até um altar cerca de cinqüenta metros adiante.
Sua primeira ideia foi correr. Queria correr para os braços dele, matar a saudade, abraçá-lo forte, mas quando seus olhos se encontraram foi como se pedisse com aquela gentileza característica dele para que ela fosse com calma, que tivesse a classe que uma rainha precisava ter. Assim, quase que automaticamente, endireitou o corpo, o queixo elevou-se um pouco e o olhar permaneceu fixo nos olhos dele. Já se sentia rainha daquele povo, ali, no meio de um corredor.
Respirou profundamente.
O coração batia forte, mas não demonstrava seu nervosismo... ele estava ali! Era hora de acabar com a saudade, o sofrimento, as dúvidas.
— Thomas! – ela falou entre um suspiro, porém não escutou a própria voz.
Sentiu o braço surpreendentemente forte envolver-lhe a cintura.
Onde estaria o padre? Quem realizaria a cerimônia?
Ainda a olhava nos olhos e guiou-a, conduzindo-a para que encarasse o povo. Tinha consciência de que ele falava algo, mas não sabia o que. Nem se importava.
Depois Thomas se virou para ela. A beijaria na frente de todos! E ainda não tinha visto ninguém para celebrar a cerimônia, mas afinal, o que importava?
Tudo que ela ouvia era o próprio coração bater acelerado, embora notasse novamente os lábios de Thomas se movimentando. Respirou fundo para receber os lábios dele nos seus e então fechou os olhos.
Foi quando sentiu uma dor lancinante no pescoço.
Sentia seu copo cair, mas foi sustentada pelo braço dele que lhe envolvia a cintura.
Não conseguia abrir os olhos e seu corpo estava sem forças.
Anna desmaiou.
•♦•♦•♦•♦•♦•
Corria de encontro a mãe, ou melhor, subia com as perninhas gordinhas um enorme lance de escadas.
Devia ter dois ou três anos.
A cada degrau apoiava-se no seguinte com as mãos rechonchudas; estava tão feliz! A mãe ainda não a vira, mas certamente a abraçaria forte quando visse que a filhinha já era mocinha o suficiente para subir as longas escadas do castelo de Pendiham. Faltavam apenas quatro degraus.
Mãozinha para apoiar. Uma perninha, depois a outra. Mãozinha para apoiar...
Perdeu o equilíbrio.
Gritou muito alto enquanto rolava escada a baixo, enchendo o corpinho frágil de machucados. Quando a mãe a apanhou lá embaixo, com o rosto lavado de lágrimas, deu graças a Deus de a criança não ter morrido.
![](https://img.wattpad.com/cover/99308951-288-k910912.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Antes da Eternidade
Vampir[Concluída] Anna poderia ser personagem de um conto de fadas: a criada do castelo que se casou com o príncipe herdeiro, logo coroado rei. Mas por que continuar com ele se o meio-irmão, apesar de petulante e aparentemente doente a maior parte do temp...