XVIII - Déjà-vu

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    Silêncio.

    Anna soltou a filha e mandou-a permanecer onde estava. Fez sinal para que dois guardas a acompanhassem a curta distância.

    Quando desceram os poucos degraus recobertos pelo tapete vermelho, parecia ter recuperado toda a imponência e mandado embora o sentimentalismo do momento anterior.

    Das portas abertas, ninguém ainda surgira.

— Quem ousa me perturbar? – a voz dela ecoou alta pelo aposento, enquanto ela continuava caminhando a passos firmes até chegar ao centro do salão, onde parou, aguardando para que alguém se anunciasse ou fosse anunciado.

    Acompanhado de meia dúzia de soldados, um homem de cabelos e barbas longos e louros entrou no salão. Cada qual armado de uma espada.

     Anna não demorou a reconhecê-lo, embora não tivesse mais seus vinte e poucos anos.

— Eu vim buscar o meu filho - disse o homem em uma voz que era pouco mais que um grunhido gutural.

    Anna sorriu. Depois levantou a mão dispensando sua guarda e ordenando em voz baixa e despreocupada:

— Tirem Morgana e os outros daqui. A cerimônia acabou.

    Thomas, com a mão no punho da espada, aproximou-se assim que os guardas se afastaram:

— É falta de educação não anunciar sua chegada, irmão.

    John riu com um cinismo que não fazia parte de sua personalidade alguns anos antes:

— Eu não preciso me anunciar a um casal de traidores, irmão.

    As últimas pessoas deixavam o salão sem lhes dar um momento de atenção. Thomas certificou-se de que Morgana já havia saído para tirar a espada da bainha enquanto Anna, atônita, assistia à cena.

— Os... trogloditas podem, por gentileza, guardar as espadas para conversarmos civilizadamente? Parecem bárbaros!

     O tom, cheio de desdém, deixou John e Thomas desconcertados. Os olhos da rainha corriam do marido atual ao anterior repetidamente, mas apesar de tudo, nenhum deles ousou abaixar as armas.

— Idiotas -. Ela bufou sem dar atenção às armas em riste de Thomas ou John e interpondo-se entre elas, de frente para o atual companheiro – Saia daqui agora. Vá ver se Morgana precisa de algo ou encontre alguma coisa útil para fazer, Thomas. Eu quero conversar com John – depois acrescentou em um volume muito mais baixo – Deles é fácil aceitar uma atitude tão rude... mas você, Thomas?! Esta noite, chega a me decepcionar. - Ele fez menção de dizer algo, mas Anna selou seus lábios com os dela antes que ele pudesse dizer algo mais, ao mesmo tempo em que, com a mão esquerda, o fez abaixar a espada -. Vá. E não volte se não for chamado.

    Acompanhou-o se distanciar com os olhos, sem dar atenção aos homens que ainda tinham as armas em punho logo atrás dela. Assim que ele dobrou um corredor e ela o perdeu de vista, a rainha voltou-se novamente para John que guardou a espada, seguido por seus soldados. Embora o rei de Pendiham estivesse alterado, a admiração dele por Anna ainda era visível no seu olhar.

— John, por favor, mande-os embora. Seja lá o que tenha para fazer aqui, já notou que não vou usar de força para atacá-lo. Prezo demasiadamente a civilização.

    O rei dispensou-os e foram instruídos por Anna a esperar nas portas do castelo de Santhomé até que ela ordenasse aos seus criados que lhe oferecessem hospedagem.

Antes da EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora