XVII - A Cerimônia

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    Quando Anna notou a ausência dos filhos, não soube se deveria considerar aquilo bom ou ruim. Desde o nascimento da menina sabia que ela e Gabriel se tornariam mais do que irmãos. Ou melhor, que jamais se veriam como irmãos.

    Materialmente soava bem. Gabriel era o filho primogênito de John, portanto, herdeiro do trono de Pendiham. Estender o território dos seres da noite seria maravilhoso, mesmo porque assim poderia haver um maior número deles.

    Por outro lado, aquilo era péssimo. Morgana e Gabriel ainda tinham sentimentos e aquilo poderia implicar em problemas futuros.

    Anna saiu do salão de baile com muito cuidado para não ser notada e não interromper novamente a música.

    Precisava conversar com Morgana.





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    A menina estava nua. As mãos timidamente inexperientes de Gabriel percorriam suas curvas num misto de desejo e culpa. Imaginava que, provavelmente, jamais voltaria a vê-la. Puxava-a mais perto pelo quadril quando ouviram as batidas na porta.

— Deve ser minha mãe - disse, sem graça.

— Não. Deve ser a minha. – Ela o afastou gentilmente e procurou um lugar para escondê-lo.

    Enrolou-se com pressa num lençol e abriu apenas uma parte da porta, o bastante para colocar apenas o rosto para fora. Esforçou-se para não demonstrar o receio ao ver a mãe.

— O que foi?

— Está com ele aí?

— Ele quem? – perguntou, ainda tentando forjar inocência.

— O rapaz... Gabriel. Seu... primo.

    Ela deu um suspiro. A mãe saberia se ela mentisse.

— Sim, estou.

    Anna empurrou um pouco mais a porta, constatando que Morgana estava envolvida apenas nas roupas de cama.

— Você vai se arrepender do que está fazendo, menina.

— Não vou... eu o amo – respondeu, com todo o ardor da adolescência.

— Acabou de conhecê-lo – a voz da rainha foi indiferente, apesar da intervenção.

— E qual o problema nisto?! Disse, durante toda a minha vida, que quando completasse dezessete anos poderia fazer o que eu bem entendesse – foi a primeira vez que, de onde estava, Gabriel pôde ouvir alguns sussurros exaltados -. E ele me pareceu o único a realmente sentir algo ao me ver em toda a minha vida!

    "Menina Tola".

    Mas sua tolice poderia render alianças com um reino, até então, considerado inimigo. A ausência de sentimentos e uma moral humana fazia com que todo o problema soasse menor aos olhos da mãe.

— Não faça isso, Morgana. - insistiu, com algo longínquo que lembrava a maternidade, mesmo que contrariada pela vontade e oportunidade de estender seu poder.

Antes da EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora