XVI - Fantasie Impromptu

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    Em sua cabeça, durante muito tempo, Henry tentou ver aquela noite como um sonho. E durante anos realmente se convencera daquilo.

    Até deparar-se com ela novamente.

    Já estava completamente disperso da conversa de Gabriel com a mulher de seu pesadelo infante.

— Nós já nos conhecemos - Henry disse baixo, meio hipnotizado pela beleza de Anna. Ele já não era mais uma criança, mas Anna continuava a mulher mais atraente que tinha em sua memória.

    Com um suspiro irritado pela interrupção, Anna virou-se para ele:

— Não creio que seja possível, Sir. Agora deixe-me conversar com meu filho.

—  Não. Nós já nos conhecemos!

    Dois soldados se adiantaram com as mãos já pousadas sobre os punhos das espadas. Anna os afastou com apenas um olhar.

— Eu não gasto palavras... - interrompeu-se, tentando se controlar. Não poderia ser grosseira com ele em consideração ao filho, que realmente parecia afeiçoado ao outro rapaz e até mesmo em prol de seu próprio reino, já que o olhar frio, os braços torneados e as poucas cicatrizes demonstravam que tinha em sua presença um dos melhores guerreiros que viviam (literalmente) naquela terra - ...não gasto palavras demais quando estou certa de algo, Sir. Mas teremos uma eternidade para falar sobre o assunto, se está tão convencido. No momento eu poderia, por favor,  contemplar melhor a face de meu menino Gabriel?

    Levantou-se discretamente para que a festa não fosse interrompida, encaminhou-se até o rapaz loiro e segurou delicadamente seu rosto. Gabriel esquivou-se do toque gelado da mulher e utilizou um tom de ameaça quando falou, algo raro de sua parte:

— Não brinque comigo. Eu tenho o direito de conhecer minha mãe e não preciso ficar aturando uma brincadeira sem graça como esta!

— Não crê mesmo em mim, não é? – Anna esgotava sua paciência, mas estava decidida a não usar os artifícios dos seres noturnos no filho. Queria convencê-lo como humana... como os mortais fariam – Quero que sente, por dois minutos, em meu trono. Observe cada pessoa presente neste salão. Convidados, criados, soldados, músicos... Me aponte, meu jovem, uma só pessoa que não conserve um semblante jovem. Se puder fazer isso.

    Desconfiado, Gabriel sentou-se no trono. Observou cada face de cada convidado e não conseguiu encontrar ninguém que ultrapassasse a beleza da maturidade que se adquire aos quarenta anos. Aliás, poucos eram aqueles que pareciam chegar a essa idade. A maioria era jovem e de traços belíssimos. Homens e mulheres de exímia beleza. Alguns pareciam até mesmo estrangeiros.

    Seus olhos corriam admirados pelas faces consideravelmente imponentes e as maneiras e trejeitos finos daqueles que se divertiam. Em dado momento, o olhar parou sobre uma moça. Ela usava um vestido verde claro que, logo Gabriel notou, combinava com seus olhos; tinha a pele muito branca e os lábios e bochechas levemente rosados. Os cabelos levemente ondulados, negros e muito longos caiam-lhe pelas costas e duas finas tranças formavam-se em suas têmporas e eram presas na forma de uma delicada coroa. Ele sorriu, encantado com a menina, e se desse mais atenção à mulher ao seu lado notaria que ela era filha da rainha e, por conseqüência, sua irmã. Mas, mantendo um sorriso bobo nos lábios e ainda mantendo os olhos na moça perguntou:

— Quem é aquela?

    Anna suspirou. Ali, naquela pergunta, naquela noite, estava o motivo de ter dado aquele nome à sua filha.

Antes da EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora