1 - F r a g m e n t o s

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        O sofrimento provém das coisas desejadas, porém nunca realizadas em nossas vidas...

Mas para a encantadora Normani Hamilton 'realização' era a palavra exata para a definição do momento em que estava vivendo.
A brisa de outono soprou, fazendo os cachos de Normani flutuarem, após a mulher sair da clínica Hope&Life.
Ela caminhava calmamente com um sorriso radiante, pisando sobre as folhas secas das alamedas, espalhadas pela calçada.
Apesar do crepúsculo que chegava ávido, a mulher tinha um brilho nos olhos que nota-se de longe.

Ela procurou seu celular na bolsa e digitou alguns números. Após o segundo toque, sua chamada foi atendida.

Alô...

— Dinah! Acabei de sair daqui. Acho que vai dar tudo certo.

É claro que vai, Mani... — A mulher soltou um suspiro do outro lado da linha e continuou. — Queria ter ficado ao seu lado.

— Tudo bem, Dinah. Você estava aqui, de alguma forma... Vou te buscar no aeroporto. Já chegou?

Cheguei a pouco tempo, mas vou pegar um táxi. Vá para casa e fique de repouso.

— Vai ser difícil descansar hoje, estou com saudades de você.

— Está tentando me desconcentrar, Srta. Hamilton? — Dinah perguntou baixinho e se apressou em atravessar a rua, quando vislumbrou um táxi livre parado, fazendo uma prece para que ninguém mais o notasse. — Vou pegar um táxi agora...

Um barulho estridente de buzina se fez presente, antes da ligação cair. Normani se assustou e sofregamente retornou a chamada, sem êxito dessa vez.

— Atende, Dinah! Por favor... Atende, meu amor.

[...]

Hospital Health System NY.
25 de Setembro de 2016.
Nova York.

        Alguns paramédicos transferiram uma jovem desacordada da maca para a mesa de exames, na ala emergencial.
Com uma tesoura, uma enfermeira deixou a roupa da mulher em trapos.

— Não achei a pulsação. — A enfermeira comentou. — Qual médico de plantão?

— Doutor James...

O médico foi chamado e sessenta segundos depois apareceu na sala de emergência.
A enfermeira repassou as informações ao médico plantonista.

— Doutor, temos aqui uma vítima de atropelamento. Paciente por volta de vinte anos... Suspeita de traumatismo craniano. Há um grande edema na cabeça... A pulsação está fraca. Parece que o estado é grave. 

— Nome da vítima? 

— Dinah Jane Hansen.

— Quero exames de radiografia e tomografia. Rápido! — O médico proferiu, olhando as informações na prancheta.

A garota de origem polinésia estava ensanguentada, com escoriações nos ombros, braços e pernas. O médico a colocou em dois tubos de soro e a manteve no oxigênio.

—  Faremos o possível.

[...]

        As informações que o médico repassava à Normani, ainda ecoavam em sua mente. 
Na tomografia foi identificada uma hemorragia intracraniana e o lobo frontal do cérebro estava lesionado. Precisaram fazer cirurgia com urgência.

Dinah permaneceu em coma durante seis dias, fazendo com que o sistema nervoso amenizasse. Com o tempo, o cérebro iria se recompor e o inchaço diminuir. 
Os dias pareceram uma eternidade e todo esse longo período, Normani permanecia ali, conversando com sua amada, mesmo que ela estivesse inconsciente.

Remember me | Norminah   Onde histórias criam vida. Descubra agora