26 - R e d e n ç ã o

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        Ver aqueles olhos marejados quando olhou para ela, foi devastador. Normani a observando daquela maneira, se arrependeu profundamente de cada palavra dita naquele reencontro.
Como foi mesquinha a ponto de não querer ouvir o que a mulher tinha para falar?

Por três anos tinha partido, se fechado para emoções, mas já estava exausta daquilo. E o fim daquele torpor seria a coisa certa a fazer. Embora Normani soubesse que havia uma grande possibilidade de não tê-la novamente, ela estava disposta a tentar, até não haver mais forças para lutar.

— Me perdoe. — Foi o que conseguiu articular.

— Não me venha com essa de perdão. Droga! Se me dizer isso mais uma vez, eu bato na sua cara. — A loira vociferou.

— Fui estúpida por cometer tantos desatinos e fazer escolhas das quais me arrependo profundamente. Apesar de tudo, quero que saiba que te amo...

— Não. Não faz isso. — A loira se virou, andando para longe de Normani. Tudo aquilo era demais para ela.

— Não fuja, Dinah!

— Foi você quem fugiu.

— Eu assumo. Meu erro foi deixar que aquela noite me tirasse a sanidade e permitir que a raiva me dominasse, não querendo sequer, olhar para a mulher que eu amo e cogitar a possibilidade de vê-la amando outra pessoa. Agora, me culpo por tudo que causei. Me culpo pelos anos não vividos, porque sem você do meu lado, eu simplesmente não consegui seguir, Dinah. Eu realmente sinto muito, eu pensei que...

— Que eu tivesse te traído. — Dinah interrompeu. — Isso você já falou, Normani.

— Eu sofri um aborto naquela noite. — Ela sentiu sua voz estalar e as lágrimas embaçarem sua vista.

— Aborto? C-como assim?

— Eu estava grávida. Nós planejamos e fizemos uma inseminação artificial antes do seu acidente. Você doou seu óvulo e eu o útero. Estava tudo indo bem, se não desse certo comigo, daria com você... Só o que não planejamos foi aquele maldito acidente e o que ele nos causou. Eu deixei tudo, para ficar do seu lado. Acabei não percebendo que estava grávida.

— Você perdeu o bebê. Nosso bebê, e se afastou de mim por achar que eu causei tudo isso?

— Eu te culpei esses anos todos... Mas não sabia da verdade. Agora eu estou tão arrependida.

— E o que você quer de mim, Normani? Você quer que eu sofra outro acidente, e que eu perca mais três anos para poder esquecer o que eu passei? — Dinah a indagou. — Eu queria ser forte, queria esquecer tudo, mas cada vez que olho para você, tudo volta. A verdade Normani, é que eu sempre estive longe de você. Você é perfeita e forte o suficiente. Eu nunca fui capaz de te alcançar.

— Não diga isso. Droga, Dinah...

— Por que voltou? Eu estava bem. Estava seguindo em frente. Agora você está estragando tudo.

— Eu voltei porque achei que tivesse te esquecido. Orei tanto por isso. Para tirar você de dentro de mim. Mas quando te vi, percebi que você ainda estava lá, por baixo da minha pele, como uma tatuagem irremovível.

— O que quer de mim, Normani? — Um soluço ameaçou lhe tirar dos eixos, quando ela refez sua pergunta.

— Eu quero qualquer coisa que você queira me dar. — A mulher fechou seus olhos, e abaixou a cabeça, estava desnudando sua alma naquelas palavras ditas.

Elas ficaram em silêncio por minutos, respirando pesadamente.

— Aceito qualquer coisa, Dinah. Apenas não me diga que não temos nenhuma chance. Não aceitarei.

— Quando eu estava disposta a dar tudo de mim, mesmo eu não tendo quase nada... Você não estava lá. O que eu tinha não foi o suficiente para você naquela época, por que acha que será diferente agora?

— Porque nada do que eu pensei, era verdade. A verdade é que eu te amo e sinto que me ama também. E se isso for apenas uma ilusão, eu jamais quero acordar. Porque a outra alternativa é um precipício escuro e assustador. E eu não estou disposta a encarar isso.

A loira questionou, se devia sentir-se melhor agora, porque tudo foi apenas um engano.

Quando uma cidade é destruída por um redemoinho, acha que as pessoas estão tolerantes pelo fato de que o redemoinho não teve culpa de surgir ali?
Absolutamente que não, porque a desgraça já estava feita.
As lembranças e palavras dela contra a polinésia à destruía por dentro.

— Você estragou tudo. Eu estava te amando...  — Ela soluçou. — Eu precisava de você.

— Eu também precisava de você, Dinah.

— Mas eu estava aqui. Esse tempo todo, eu estava aqui, te esperando. — Dinah cobriu seu rosto com as duas mãos, chorando sem parar. Um choro por todos aqueles momentos infrutíferos de tormento, de noites mal dormidas. Por todo aquele espaço que ainda continuava entre elas e pelas escolhas estúpidas que aconteceram por causa de um mal entendido.

— Me desculpe, Dinah… Eu estou arrependida. — Normani estava acabada, vendo a loira se desmoromando na sua frente. Ela se aproximou ainda mais da mulher, fazendo suas peles se tocarem. — Podemos nos curar juntas. Só não desista de mim.

— E-eu...

— Por favor. — Ela estendeu a mão para alcançar a mulher. — Por favor... Por favor, Dinah.

Normani estava desesperada. A loira pôde perceber que ela não foi a única que sofreu. E por um segundo, as ruas foram banhadas por uma chuva calma, o ar agora estava perfumado. As gotas de chuva se misturavam com as lágrimas das duas e o mundo estava pausado, em expectativa.

Dinah conseguiria viver sem aquela mulher?
Talvez sim. Mas ela jamais escolheria se tivesse que fazer isso.

Não foi escolha da loira, ter Normani longe de si. Ela não entendia, de fato, o que aconteceu para que a texana partisse sem ao menos lhe dar alguma explicação plausível. Mas agora, tudo estava respondido.

A polinésia chegou mais perto dela e quando estava próxima o bastante, sentiu a sutil pressão dos dedos dela em suas costas. Sentiu também a respiração morna contra a curva de seu pescoço.
Ela fechou os olhos por um instante, sentindo o cheiro dela, ainda era o mesmo de sempre.
Dinah ficou ali absorvendo a mulher que amava, guardando para si cada pedaço dela.

Estava certa de que a vida não dava segundas chances, mas quem ela queria enganar?
A cada segundo perto daquela mulher, já era um recomeço.
Normani era sua segunda, terceira ou quantas chances fossem necessárias.

Ainda sem dizer nada, Dinah ouviu a voz da mulher. Estavam tão perto, que sua fala pareceu vibrar gentilmente dentro dela.

— Me perdoa?

Dinah não queria sentir o medo dela, tão tangível quanto o seu. Antes que ela mergulhesse de cabeça naquilo novamente, ela se permitiu responder:

— Sim. — Foi um suspiro, que saiu juntamente com o peso que tinha sobre suas costas. A cada lágrima derramada sobre aquela chuva, veio a redenção.

Normani tirou os fios molhados do rosto da loira e segurou o rosto dela com ambas as mãos, a puxando para que seus lábios se tocassem, sutis. Foi mais do que um beijo intenso. Foi uma súplica por sentir novamente aquele gosto.
A boca da loira implorava por mais. Foram anos sem sentir aqueles lábios macios lhe sondando e lhe saboreando, arrancando de si os devaneios guardados.

Naquele caso, o perdão foi um ato egocêntrico, porque Dinah precisava daquilo para receber a paz na alma.
Ela precisava daquilo para ter Normani.

Remember me | Norminah   Onde histórias criam vida. Descubra agora