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Quarta feira significava que eu tinha tarde livre e que tinha de ir no autocarro com a minha irmã para casa. O autocarro levava muita gente. Geralmente eu tinha de ir em pé até à segunda paragem. A minha era uma das últimas paragens, ou última, não sei bem, nunca sai depois de parar ao pé da minha casa.

Houveram duas mudanças. Pelo menos até agora.

A minha irmã mandou mensagem a dizer que ia ficar na escola a estudar com alguns amigos. Então tinha de ir sozinha.

A outra mudança foi que hoje consegui arranjar logo lugar quando entrei e falei com alguém. Fiquei ao lado de um rapaz estranho que estava a ler um artigo qualquer sobre ovnis e coisas a ver com estrelas e constelações e coisas dessas. Não liguei e coloquei os meus auscultadores e escolhi música aleatoriamente no telemóvel. Durante os quase 30 minutos de viagem ouvi as músicas e de vez em quando espreitava para o lado para o rapaz das estrelas. Parecia daqueles nerds que estão sempre com os óculos a cairem lhes da cara, que de vez em quando, muito frequentemente, têm de se assoar, que são tímidos e ficam desconfortáveis ao lado das pessoas. Mas não era assim tão parecido com esses gajos. Era mais... Talvez, mais despreocupado e uma daquelas pessoas que estão sempre a falar, logo, menos envergonhado. E para além disso nao tinha óculos e não tinha um lenço na não para se assoar e acho que não tinha vontade de o fazer.

- Já o acabei- ele falou enquanto arrumava as suas coisas. Pelos vistos ia sair nesta paragem e eu tinha de me levantar para lhe dar passagem- Queres?- esticou a revista na minha direção.

- Claro!- sorri lhe e peguei na revista. Ele sorriu também e depois eu levantei me para que ele pudesse sair.

Quando a viagem terminou, sai do autocarro e fui para casa. O meu irmão não estava. Devia ter ido ao centro de emprego ver se arranjava qualquer coisa. A minha mãe tinha ido trabalhar e o meu pai a mesma coisa.

Aqueci o meu almoço e depois de o comer fui sentar me no sofá a ver a revista que o rapaz do autocarro me deu à saída. Li um pouco, o suficiente para ficar interessada em algumas partes e posteriormente fui para o quarto estudar um pouco.

À hora do lanche tive uma ideia. Assim um pouco parva, o que já é normal em mim, mas vou colocá la em prática.

Deitei um pouco de coca cola para dois copos, fiz duas tostas mistas e depois cortei uns morangos e já partidos em pedaços coloquei os numa taça e peguei em dois grafos. Pus tudo num tabuleiro. Peguei no meu telemóvel e chaves de casa e pus as duas coisas no bolso de trás das calças.

Voltei à cozinha para levar o tabuleiro com as coisas para a entrada. Pousei o no chão, abri a porta, peguei nele e voltei a colocá lo no chão do lado de fora da minha casa para puder fechar a porta. De novo com o tabuleiro nas mãos andei em direção à casa do rapaz que me acolheu duas vezes quando eu não estava muito bem. Bati à porta e esperei que alguém abrisse, apesar de tsr quase a certeza que ele era o único que habitava ali, por isso teria de ser ele a abrir a porta. Olhei para a janela e vi que ele estava lá a espreitar e depois revirou os olhos.

- Oh, vá lá!- protestei- Abre a porta! Até te fiz o lanche e tudo! E está frio aqui fora, vá lá abre.

- Se eu abrir, lanchamos isso que aí trazes, não fazes perguntas e depois sais e não voltas- gritou do outro lado.

- Lanchar sim; não fazer perguntas não sei; ir embora sim; não voltar, não sei.

Esperei alguns segundos e os braços já estavam a doer de ter o tabuleiro nas mãos.
Ele que se despache a abrir se não quer ficar sem lanche.

Como a ouvir os meus pensamentos, o rapaz, com nome ainda desconhecido, abre a porta. Entro para a sua casa e depois fico à espera que ele me de indicações para onde ir. Ele apontou para o sofá e disse para colocar o tabuleiro em cima da mesa. Soltei um suspiro de alívio depois de ter tirado aquele peso de cima de mim. Ele desapareceu por um pouco e depois voltou com guardanapos.

Missing - S.MOnde histórias criam vida. Descubra agora