Missing - S.M

27.

O Shawn entregou me uma caneca com café e sentou se ao meu lado no sofá. As nossas pernas tocavam uma na outra por o sofá ser tão pequeno e nós estarmos quase colados um ao outro. Estava bem assim, com ele ao meu lado, um café, a cabeça mais leve e um sorriso na cara. O moreno estava a olhar pada a parede à nossa frente com um ar pensativo. Ainda deve estar a raciocinar tudo o que se acabou de passar nesta pequena casa. Há meses atrás ele nem me dizia o seu nome, agora acabou de partilhar comigo a sua história de vida, as suas fraquezas e as suas lágrimas.

- Shawn...- murmurei o seu nome e olhei para ele- Está tudo bem?

Eu sabia que não estava tudo bem, mas quero confirmar que ele confia em mim agora para me contar tudo. Quero saber como ele se sente depois de me ter contado isto tudo, quero sentir que estamos bem um com o outro.

- Sim...- ele suspirou- Quer dizer... Para ser honesto, nem sei bem. Acabei de te revelar tudo ou quase tudo sobre a minha vida, uma coisa que nunca contei a ninguém, o meu pior segredo... É estranho e libertador ao mesmo tempo.

- Desculpa ter te forçado a isto tudo, a sério- baixei a cabeça. É verdade que ele já me fez sofrer, mas isso não quer dizer que eu tenha de fazer o mesmo. Nunca o quis ver sofrer, muito menos por minha causa.

- O que importa é que tu estás bem- corei ligeiramente com o que ele disse. Como é que ele é assim? A querer ver me bem, a querer ver me feliz, sempre preocupado comigo- Eu também vou ficar, não te preocupes. Apesar de tudo foi bom ter contado isto a alguém. E fico muito feliz poe teres sido tu a primeira pessoa a ouvir a minha história.

- Eu é que estou feliz por teres confiado em mim. Nem sabes o que isso significa- sorri lhe. Ficamos a olhar um para o outro em silêncio, até eu o quebrar- E agora? Quando é que voltas para casa?

- Não sei... O raio do Detetive ainda anda a rondar- revirou os olhos. Não sou a única que o odeia.

- Pois, eu tive uma conversa com ele hoje e não me parece que ele vá sair da frente da minha casa cedo. Antes chovem galinhas em julho do que ele sair de lá.

O Shawn riu se e eu ri me com ele. É tão bom estar assim com ele, como se não tivéssemos todos os problemas que temos. Como se fossemos dois amigos normais a viver como pessoas normais em situações normais. Mas não somos. E eu gosto de não ser normal. E gosto que o Shawn não seja normal. Gosto dele assim como é.

- Aquele homem é idiota juro- disse ainda entre risos.

- Eu sei. Mas já estava na hora de sair daqui e deixar nos em paz- wow, existe um "nós".

Eu não acabei de pensar nisto.

- Ele desconfiou de mim quando nos foi fazer perguntas sobre ti. Por isso é que anda a vigiar me. Está à espera que vás ter comigo ou o contrário.

- Ah- será que ele está chateado comigo por nao ter conseguido mentir melhor?

- Desculpa, eu não soube como reagir a tudo o que ele estava a dizer e...- comecei a falar, mas ele interrompeu me.

- Não faz mal, a sério. Ele há de ser fartar- mostrou me um pequeno sorriso para me fazer descontrair um pouco. E, incrivelmente resultou. Foi uma coisa simples, mas todos os meus músculos relaxaram e um sorriso cresceu na minha cara. Como é que ele tem este efeito em mim?

Voltamos a ficar em silêncio. Para mim era constrangedor, não sei porquê. Estávamos os dois a olhar para a parede. Em que é que ele está a pensar? Ele pensa tantas vezes em mim como eu penso nele? Ou como pensava antes de ficar meio maluca, por quando estava assim nem conseguia pensar nele. É incrível como agora, depois de a minha mente estar limpa, eu penso nele, nas suas mãos grandes a apertarem as minhas, no anel que tem no dedo, na pulseira que tem no pulso, na tatuagem no seu braço, nos detalhes da sua face, nos seus lindos olhos castanhos, no seu cabelo cada vez mais comprido, nos seus lábios, nos seus braços à minha volta, na altura que nos separava e me fazia por em bicos dos pés para enrolar os meus braços no seu pescoço, na sua voz suave e vibrante, nele, ele em todo o seu magnífico e esplêndido ser.