Missing - S.M

25.

Acordei meia hora antes de o despertador tocar. Não dormi muito bem, mesmo depois da conversa com o Willem e as diversões da Sandy. A minha estava constantemente preenchida pelo seu nome, pela voz que já quase esqueci, pelos olhos, pelos seus cabelos castanhos, pelo seu rosto, aquela pequena e fofa marca que tem na sua bochecha direita, e até pela sua voz. Pelos seus braços a apertarem me contra o seu corpo, pela sua simplicidade, pela sensação dos seus lábios pressionados contra a minha bochecha... Pelas vezes que ele me tratou mal, pelas vezes que me magoou física e psicologicamente. E por todos os mistérios e segredos à sua volta. Não há espaço para mais nada na minha mente. Nada.

Decidi ir tomar o banho rápido e depois de me vestir fui tomar o pequeno almoço. A minha família já se encontrava lá a conversar e a comer quando cheguei.

- Bom dia Madison- cumprimentou o meu pai com um sorriso.

-Bom dia- devolvi. Sentei me a comer junto a eles.

Primeiro dia de escola do 3 período. Felizmente, e finalmente, estava a acabar, mas só de me lembrar dos exames até fico com náuseas. Não sei onde é que vou arranjar maneira de estudar com tudo o que está a acontecer. Parece que vou ter de me desenrascar não é?

Quando cheguei à escola já passavam dois minutos da hora, por isso apressei me a ir até à sala. Entrei enquanto mais algumas pessoas entravam e fui me sentar no meu lugar habitual, ao lado do Gray.

Não tínhamos falado mais depois da conversa que tivemos em minha casa ontem. Pensei em mandar lhe mensagem quando ele se foi embora, talvez a agradecer lhe por se preocupar comigo e por tentar que as coisas ficassem bem, mas depois com as visitas em casa e a minha pouca vontade de olhar para o ecrã do telemóvel não me deixaram fazê lo.

- Olá- sentei me ao seu lado e comecei a tirar os livros e cadernos necessários para a disciplina de filosofia. O meu melhor amigo tirou os olhos do seu caderno de desenho e arrumou o mesmo dentro da mala.

- Bom dia alegria- riu se e eu revirei os olhos com a sua fraca tentativa de me animar- Já pensaste... hum...- ele passou a mão pelo cabelo preto- Se vais?

-Eu não queria falar disso agora- olhei para ele- Mas... Acho que vou. Preciso de ficar bem.

-E... E depois?- era uma ótima pergunta. O que é que vou fazer depois? Parece que tudo vai depender da conversa que vamos ter hoje, espero eu.

- Pois, não sei- suspirei- Mas, a sério, não me apetece falar disso.

- Eu compreendo- sorriu ligeiramente e eu retribui.

- Ontem, eu...- comecei a dizer antes de sequer formular a frase na minha cabeça- Eu queria agradecer te, Gray, por me teres apoiado ontem, por te preocupares comigo. É muito importante o teu apoio.

- Eu vou estar sempre a apoiar te e vou estar sempre ao teu lado, não te esqueças disso. Sempre- corei ligeiramente e abracei o de uma forma rápida para a professora não ver.

- Obrigada, a sério- dei lhe um beijo na bochecha- Vá, vamos fingir que prestamos atenção.

As aulas passaram um pouco mais depressa do que o normal porque o Gray esteve sempre a fazer coisas parvas para me fazer rir e me distrair do que podia acontecer hoje, às 17. Em parte a sua tentativa resultou, mas depois voltava a sentir como se na minha cabeça estivessem mil pedregulhos a preencherem na.

Quando cheguei a casa, almocei o que sobrou do jantar de ontem - o que foi bastante, porque quando temos visitas a minha mãe faz comida que dá para um batalhão - e fui arrumar as coisas da escola.

Com o que é que eu vou preencher a minha cabeça até às 17?

Fui até à janela e espreitei lá para fora. Um carro estava estacionado no outro lado da rua. O mesmo carro de sempre. O carro do Detetive Jones. Está sempre a vigiar. A minha vontade é de ir lá e mandá lo ir chatear os pinguins no Polo Norte! Pelo menos esses devem ser mais divertidos que eu.