CAPÍTULO 17

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     -Você tem que ir mesmo?

Já devia ser a quinta vez eu Tom me perguntava aquilo. Passamos a manhã transando (eram vinte anos de atraso pra tirar, e segundo ele não tínhamos tempo a perder) e depois do almoço eu estava me vestindo pra ir para o trabalho.

-Você sabe que eu tenho que ir. E você não devia estar na faculdade? –O ouvi bufar atrás de mim e me virei para encara-lo. –Tom...

-Eu vou amanhã ok?

Suspirei e me aproximei da cama abaixando e acariciando os seus cabelos.

-É o seu futuro. –E dos meus filhos. Pensei comigo mesma. –Não joga fora desse jeito.

Ele sorriu pra mim. Era ruim ver ele desperdiçar tanto talento. Ele gostava da faculdade, tinha ganho uma bolsa completa, tinha um futuro próspero pela frente, mas colocava tudo a perder por relaxamento. Por isso sempre tinha que ter alguém ao lado dele pra dar aquele puxão de orelha.

Dei um beijo demorado nos seus lábios e me afastei colocando os cabelos para longe do rosto.

-Agora eu tenho que ir. Tenho modelos sarados me esperando. –Falei saindo do quarto em direção à sala.

Peguei a bolsa, as chaves da moto e o meu celular. Tinha acabado de pegar o capacete quando virei e dei de cara com Tom gloriosamente nu bloqueando a minha passagem.

-O que você disse? –Perguntou com a cara fechada.

Sorri para tranquiliza-lo.

-Foi brincadeira Tom. Anda, sai da frente.

-É por isso que você tá toda animadinha pra ir trabalhar? –Me ignorou ainda sem sair da frente. –Quer ir ver aquele bando de macho enrustido circulando pra cima e pra baixo?

Abri a boca descrente. Aquilo era sério mesmo?

-O que... Eu nem fico no mesmo lugar que eles. São duas alas diferentes. Eu estava brincando.

Tentei contorna-lo mas ele se moveu e voltou a ficar na minha frente.

-Você não vai. –Falou decidido.

Ia perguntar se ele estava de brincadeira com a minha cara quando olhei nos seus olhos e vi a seriedade ali. Ele não estava brincando.

Pensando nisso eu desviei rapidamente dele e corri em direção a porta, abrindo-a e saindo mais rápido que um raio em direção ao elevador.

-MILENE! –Ele gritou atrás de mim.

-Te amo! Até a noite! –Gritei de volta, então as portas do elevador se fecharam e eu pude respirar tranquila.

Caramba, aquilo tudo por causa de uma brincadeira. Que falta de senso de humor! Tom precisava relaxar um pouco. E mesmo uma parte de mim amando de paixão ver que ele tinha ciúmes de mim, uma outra achava aquilo irritantemente exagerado. Qual é, eu convivia com aqueles caras há anos, eles eram quase como meus irmãos mais novos gays.

Pensando nisso eu entrei no estacionamento, montei na moto, coloquei o capacete e saí para o trabalho. Não podia parar a minha vida só porque Tom estava tendo uma crise de ciúmes. A antiga Milene faria aquilo.

A nova e bem resolvida Milene era autossuficiente e bem resolvida, e não se humilhava pra macho nenhum.

***

Quando cheguei em casa tudo que eu queria era deitar. Minhas costas estavam me matando. Tinha passado a tarde inteira sentada fazendo esboços para a coleção da geladeira da minha tia. Precisava dos retoques finais senão a costureira faria igual ao nariz dela. Agora a minha bunda estava quadrada e minhas costas ferradas. Eu só precisava relaxar um pouco, mas quando as portas do elevador se abriam no meu andar eu vi que relaxar era a última coisa que eu faria.

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