Olhos Vazios ✔ [DISPONÍVEL ATÉ 30/11]

15. O Poema

Aidan

A caligrafia elegante de Li Ka Hua preenchia a folha no centro. Cada caractere escrito com uma perfeição que eu imaginava que apenas ela conseguiria, e mesmo que eu não entendesse uma única palavra do que estava escrito ali não conseguia parar de olhar para o papel. Era um poema. Li Ka Hua adorava poemas, como o pai dela havia dito. Aquele ela mesma havia escrito e em uma folha a parte, com sua letra elegante, ela traduzira-o para mim:

Olhos Vazios

Por: Li Ka Hua

Cada dia

Desde que te vi pela primeira vez

Brilhou.

Porque havia luz

Porque havia trevas

Porque não havia tempo.

Pela primeira vez

Eu quis viver mais que tudo

Desejei o sol

Desejei o ar

Sorri como não era permitido

O som do mundo

Explodiu

Como uma bomba destruiu tudo

E meus olhos vazios

Se encheram de beleza

Você desafiou a gravidade

E me puxou, me fez flutuar

Como uma bailarina no palco da vida

Eu vou ser a borboleta branca

Que protegerá os seus passos...

Cansara-me de lê-lo até que as linhas ficassem impressas na minha mente, mas não consegui entender a mensagem oculta nas linhas. Parecia impossível interpretar a mensagem escondida naquele costurado de palavras que dançavam entre si uma música que eu não conseguia cantar. Algo dentro de mim sabia que era muito mais que a mensagem óbvia, ela estava querendo me dizer alguma coisa. Levei-o para o professor Sojiru no final das aulas, se alguém poderia entender a metáfora de Li Ka Hua era ele, ainda assim, meu nervosismo me obrigou a permanecer um tempo do lado de fora da sala antes de finalmente criar coragem para bater a porta. Era estranho mostrar aquilo a ele, eu sentia que era como compartilhar uma parte da minha vida que eu queria egoisticamente viver sozinho.

— Entre! — Sua voz abafada disse do lado de dentro. — Ah, Aidan. Entre.

— Sinto muito incomodá-lo, senhor Sojiru... — Sorri aproximando-me de sua mesa. — Gostaria de pedir sua ajuda em algo.

— Claro. — Ele indicou o conjunto de sofás para que eu me sentasse. — O que eu posso fazer por você?

— Estou com dificuldades de entender um poema. — Comecei sem saber como dizer. — Ele parece ser cheio de significados ocultos que nenhum livro me ajudou a entender.