19. Primeiro Encontro

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Aidan

Levei os dedos aos lábios pela provável quinta vez naquela noite. Sempre que fechava os olhos eu podia ver Li Ka Hua vindo na minha direção, inclinando-se na ponta dos pés, beijando-me acaloradamente de modo tão espontâneo e suave que levei um segundo para conseguir retribuir — e para entender que não era um sonho. Mas, logo depois, ela desapareceu. Saiu correndo para longe me deixando ali, perplexo demais para tomar uma atitude, para ir atrás dela, para acreditar.

Mesmo naquele instante, enquanto meus dedos tocavam meus lábios como que querendo reviver o toque dela, eu ainda não conseguia acreditar que era real. Quando beijei Li Ka Hua pela primeira vez, no telhado, tomado pela frustração que ela sempre causava em mim, ela não se mexeu muito, inicialmente, percebi ali que era seu primeiro beijo. Não parecia ser do seu feitio tomar iniciativa em situações como aquela, por isso, ficara ainda mais surpreso quando, de repente, ela puxara-me em sua direção e me beijara de maneira tão doce.

O gosto do seu brilho de cereja ainda estava na minha boca, senti-me um idiota incapaz de esquecê-la, atormentado pelo desejo de tê-la ali perto e poder abraça-la, beijá-la novamente. Era oficial, não restavam mais dúvidas de que eu estava apaixonado. Sorri. Não lembrava a última vez que havia me sentido daquela forma, não lembrava sequer a primeira! Virei-me de lado e encolhi-me sobre a cama, tentando evocar a imagem dela, a sensação de seus lábios, a cor incomum dos seus olhos, a textura suave da sua pele e, bem no momento que meu corpo começava a reagir àquela imagem o telefone do prédio tocou no meu quarto.

— Senhor Berckshire? — Era a voz da monitora de entrada. — Há algo aqui para o senhor.

— Para mim? — Inquiri, confuso. — De quem?

— Não há identificação, senhor. Foi deixada aqui por um carteiro particular.

— Hum... vou pegar então.

Coloquei uma jaqueta sobre a camiseta do pijama e desci de chinelo até a entrada do prédio do dormitório, em uma espécie de cabine do lado de fora ficava a porteira e monitora do prédio masculino, uma mulher na casa dos 40 com um rosto rígido e de uma educação além do normal. Quando apareci, ela me estendeu pela pequena abertura na parte de baixo do vidro um envelope branco no qual não havia nada escrito além do meu nome. Era tarde, por volta das dez e meia, não imaginava quem mandaria um carteiro particular àquela hora no Haimei.

— Obrigado, Liv.

— Disponha, senhor. Tenha uma boa noite.

No meio do corredor mesmo eu abri enquanto entrava no elevador, dentro, dobrada cuidadosamente, estava uma folha de papel de um tipo que eu ainda não havia visto. Ao abrir encontrei apenas desenhos.

在树木的入口找到我。 明天。

A empolgação me dominou porque eu sabia que aquela era a caligrafia elegante de Li Ka Hua e quem mais ali seria capaz de me escrever uma mensagem em Chinês? Agora, eu só precisava descobrir o que significava. Dessa vez — ao contrário do poema — ela não me mandou a tradução em inglês, por isso corri para o computador e abri um tradutor online, mas encontrei dificuldades, não sabia como usar os símbolos ou o que eles significavam, as ferramentas dos tradutores eram facilitadas para quem sabia usar o sistema fonético do idioma, como vim a descobrir.

Decidi ir para a pesquisa escrita, em um dos dicionários que achei online podia-se desenhar os símbolos e vi que eles mais complicados do que pareciam, alguns tradutores pediam a ordem correta dos traços — sério? Ordem dos traços? — as palavras inicialmente pareciam não se conectar, o primeiro símbolo apareceu como o verbo estar que não tinha nenhuma ligação com o segundo que aparecia no dicionário como árvore. Suspirei. Aquilo não ia dar certo. Quando terminei de traduzir todos os símbolos, após quase meia hora para descobrir que alguns deles só faziam sentido juntos, saiu:

Olhos Vazios ✔ [DISPONÍVEL ATÉ 30/11]Onde histórias criam vida. Descubra agora