33. Advertência Final

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Aidan

Durante todo o percurso do Instituto até o hospital, tentava pensar no que diria a Li Ka Hua quando a visse. Havia um mix de sensações tão confusas dentro de mim que àquela altura não tinha mais certeza se a amava ou odiava, mas o fato de saber que ela estava bem dentro das circunstâncias me causava um alívio inexprimível. Nunca conseguiria me perdoar se algo acontecesse com ela e sabia disso, a despeito do envolvimento dela — ainda que indiretamente — com a morte do senhor Sojiru e Tatiana, o quase suicídio de Janet e o de Alissa, não havia uma forma de negar nem para mim mesmo que ainda era apaixonado por ela.

Os prédios avolumavam-se conforme íamos avançando o centro da cidade, sempre que saía, conseguia perceber quão longe o Instituto ficava de tudo, Li Ka Hua dissera uma vez que era como se ele fosse construído em uma dimensão paralela e era verdade. Eu via aquele mundo cheio de pessoas caminhando pelas calçadas, atravessando a pista, levando ou trazendo os filhos da escola, olhando os relógios de pulso na pressa para o trabalho, e ficava pensando quão frágil era a vida, em um minuto que fosse, com apenas um olhar, qualquer uma delas — ou mesmo todas — podia deixar de existir. Era um sopro. O piscar de uma lâmpada prestes a queimar.

Paguei ao motorista quando ele me deixou diante do hospital e saí do veículo. Diante de mim uma construção retangular erguia-se alta e em camadas laterais como se o prédio fosse construído em três camadas desiguais das quais uma projetava-se muito para frente enquanto a outra começava na metade desta. A parte da frente era toda feita de janelões de vidro que refletiam a luz forte do sol do meio da manhã, árvores ladeavam toda a extensão da calçada que circundava o prédio, portas duplas abriam e fechavam desenfreadamente enquanto ambulâncias cuspiam macas com pacientes. Era o maior hospital da cidade, entrei sem jeito tentando não olhar os feridos recém-chegados, aparentemente havia ocorrido um acidente de carro nas proximidades, médicos e enfermeiros berravam ordens enquanto as macas eram deslizadas por corredores e sumiam atrás de portas.

Havia um amplo hall na entrada, algumas cadeiras de plástico para pessoas em espera e, de um dos lados, uma saleta. Nos fundos ficava o balcão de informações onde cinco enfermeiras trabalhavam concentradas cadastrando pacientes, anunciando médicos através de um microfone, preenchendo prontuários e dando baixa em seguros de saúde.

— Bom dia. — Cumprimentei uma delas, a da ponta esquerda, única delas que aparentava estar de bom humor. Era negra, os cabelos presos em um coque e usava óculos, tinha uma pele limpa e aveludada, os olhos eram verdes quase fiquei hipnotizado por ela.

— Bom dia! — Ela abriu um sorriso que exibia dentes brancos perfeitamente alinhados sob os lábios cheios. — Em que posso ajuda-lo?

— Estou procurando uma paciente... o nome é Li Ka Hua. — Balbuciei.

— Ah, sim. É parente da jovem? — Quis saber.

— Não, nós estudamos juntos... é um assunto da escola.

— No momento as visitas dessa paciente estão restritas. — Informou ela analisando a tela do computador à sua frente. — O pai dela proibiu que qualquer pessoa não autorizada se aproxime do quarto, eu sinto muito.

— Entendo... — Suspirei, não era como se não esperasse que Li Tong Dao tomasse providências. — Ainda assim, obrigado.

— Espere! — Pediu ela quando virei as costas. — A mãe dela está aqui, vou perguntar se ela permite sua visita, só não poderá demorar muito, a paciente não pode se esforçar.

— Eu agradeço muito! — Sorri.

— Quem devo anunciar?

— Ah, Berkshire. — Disse baixinho. — Aidan Berkshire.

Olhos Vazios ✔ [DISPONÍVEL ATÉ 30/11]Onde histórias criam vida. Descubra agora