22. De volta aonde pertenço

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Li Ka Hua

Esse vai para a Becky porque ela é uma fofa e eu a amo. E pra Sandy porque eu amo matá-la do coração. Minha princess <3

Normal. Entre as definições estão: 1. Conforme a norma ou regra. 2. Que serve de modelo; exemplar. 3. Regular; habitual; ordinário. 4. O que não é diferente. O que é igual à maioria que esta ao seu redor, não se destaca. Algo comum. Diante disso eu sabia que nunca seria normal enquanto vivesse e, mais que ninguém, sabia como as pessoas reagiam àquilo que era diferente delas. No começo eu odiava tudo aquilo, chorava horas a fio no quarto me recusando a ver qualquer um, inclusive meu pai. Foi sua insistência em permanecer ao meu lado e me mostrar que eu não era nada mais que diferente das outras pessoas — e que isso era algo bom — que me fez reagir. Naquela época me permiti enganar por ele, afinal eu era só uma menininha querendo ter amigos. Ainda não sabia o quanto esses "amigos" podiam ser cruéis e o quanto minha amizade era perigosa.

A notificação das mortes de Tatiana Morgan e Samuel Breaks chegou em um comunicado da escola no email. Precisei ler três vezes para acreditar, foi real, duas pessoas eu salvei, duas vidas próximas a essas pessoas foram tiradas, o que poderia significar? Minha mãe entrou no quarto trazendo a bandeja com meu jantar, havia me recusado a comer desde que voltara do hospital, havia garantido ao meu pai, enfaticamente, que o ferimento de faca não havia sido por causa da briga em frente a lanchonete, contudo até mesmo para mim aquilo parecia inacreditável. A menos que... será que havia chegado àquele ponto? Estaria realmente tão ruim?

— Aconteceu alguma coisa, amor? — Quis saber ela sentando-se ao meu lado. — Você parece preocupada.

— A mãe de Janet e o irmão de Savannah morreram. — Expliquei baixando a tela do laptop sobre o teclado. — As mesmas pessoas que eu ajudei a salvar da morte, perderam pessoas.

— Talvez não tenha nenhuma ligação com você, querida. — Afagou meu braço carinhosamente. — Pode ser apenas uma coincidência triste.

— Faz tempo que eu não acredito mais em acasos, mãe. — Suspirei e ergui a blusa branca que vestia mostrando o tampão que cobria a ferida. — Principalmente agora.

— Sua avó terá as respostas, Ka Hua... — A voz dela ficou trêmula. — Vai acabar tudo bem, vai ver.

— Eu também quero acreditar nisso, mãe.

Sem que eu esperasse, ela me puxou para um abraço que retribuí. Não demorou muito para sentir o leve sacolejar do seu corpo em decorrência do choro que ela tentava ocultar sem sucesso, surpreendi-me, inclusive, quando percebi minhas próprias lágrimas. Não podia dizer que não estava com medo, não era verdade, eu estava apavorada. Uma mensagem de Aidan chegara ao meu celular quando ainda estava no hospital e me questionava em que momento ele conseguira o meu número — e como. "Vou até a Janet, contar sobre a morte da mãe dela. Me manda mensagem quando sair do hospital? Aidan."

Ainda faltavam duas pessoas. Meneei a cabeça e desliguei o celular, meus pais ajeitavam os últimos detalhes para a viagem no dia seguinte, nosso voo sairia às sete e meia, mas às quatro horas da manhã viajaríamos três horas de carro até Toronto de onde partiríamos para China. Era uma viagem exaustivamente extensa, chegaríamos em Pequim por volta de sete e quarenta da noite, naquele momento, diante de tudo que havia acontecido, parecia que a minha vida inteira chegara a um impasse, eu não conseguia mais ter perspectivas ou qualquer esperança. Fui até minha mesa de estudo e peguei uma folha, comecei a escrever uma carta, inicialmente em Chinês, para mim sempre era mais fácil raciocinar daquela forma, com base nas minhas próprias palavras eu conseguia externar o que as palavras da língua de Aidan queriam dizer.

Olhos Vazios ✔ [DISPONÍVEL ATÉ 30/11]Onde histórias criam vida. Descubra agora