21. Revelação

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Aidan

— Como ela está? — Pus-me de pé assim que Li Tong Dao deixou o quarto onde Li Ka Hua estava.

— Estável. — Ele parecia cansado, uma angústia oprimia seu belo rosto. — Os sinais vitais ainda estão muito baixos, ela vai ficar em observação. Melhor você voltar para o Instituto, de todo modo não poderá vê-la hoje e quando ela se recuperar partiremos para China. — Olhei para ele quando pôs sua mão em meu ombro. — Ela vai ficar bem, Aidan.

Apesar de tudo, por alguma razão, eu não conseguia acreditar nele. Seus olhos pareciam contrariar suas palavras, contudo, não era fácil dizer não a Li Tong Dao e assenti. Ele pareceu satisfeito, aproximei-me da porta do quarto de Li Ka Hua e olhei pelo visor de vidro, ela dormia, um soro gotejava lentamente ao seu lado e o monitor cardíaco indicava níveis baixos. Não era bom.

‡‡‡

Horas antes...

— Aidan! — Ela gritou me empurrando bruscamente para longe, parecia desnorteada, apavorada, confusa. — Yuǎnlí!

— Li Ka Hua! O que está havendo?

Ela pendeu e a segurei nos braços para que não caísse no chão, olhando para os lados busquei por um lugar onde pudesse pedir ajuda, mais abaixo descendo a ladeira, havia uma casa com uma entrada ampla levei-a até lá e coloquei-a encostada na parede externa, sobre a grama. Li Ka Hua murmurava coisas incompreensíveis, peguei meu celular na intenção de ligar para o professor Sojiru então ela vomitou sangue, o líquido vermelho ensopando a blusa e o blazer do uniforme.

— Li Ka Hua! — Gritei, desesperado. — Li Ka Hua!

Um som de vibração chamou minha atenção, vinha dela, no bolso do seu blazer estava o celular dela que não hesitei em pegar, o nome estava em Chinês e imaginei que fosse o pai ou a mãe dela, atendi rapidamente.

Ka Hua, Nǐ zài nǎlǐ?¹ — A voz de Li Tong Dao soou preocupada do outro lado.

— Senhor... — Tentei não parecer muito desesperado demais. — Li Ka Hua está passando mal, por favor...

— Aidan? Onde estão?

— Eu... eu não sei... — Tentei buscar um ponto de referência, qualquer coisa. — Ela disse que essa rua fica a duas quadras do parque... e... tem a lanchonete onde o senhor a levou uma vez, está a poucos metros de onde estamos agora.

— Estou indo até aí, coloque-a em uma posição confortável e não tente acordá-la, entendeu?

— S-sim, senhor...

Ele desligou. Puxei Li Ka Hua delicadamente na minha direção e coloquei a cabeça dela sobre minhas pernas, ela cuspiu mais sangue em uma quantidade absurda, busquei um lenço para limpar a boca dela, lágrimas caíam pelo meu rosto, seria aquilo que ela estava me escondendo uma doença terminal? Era por isso que ela não queria me fazer promessas? Que não sabia se ia voltar da China? Meu coração apertou, nunca antes havia sentido tanto medo em minha vida como sentia naquele instante. Levou menos de cinco minutos para o pai dela estacionar na calçada e sair apressado do carro, abaixando-se diante dela e tocando-lhe a testa. Li Tong Dao não fez perguntas, não gritou, não entrou em pânico, como se aquele tipo de situação fosse comum.

— Abra a porta de trás e sente-se do outro lado. — Ordenou enquanto tomava a filha nos braços.

Obedeci, abrindo a porta traseira do carro e entrando, coloquei a mochila dela e a minha no piso. Ele a colocou cuidadosamente deitada no banco e acomodei sua cabeça no colo, pela expressão, Li Tong Dao estava nervoso, preocupado, imaginei que manter aquela postura tranquila estava lhe custando caro. O rosto de Li Ka Hua estava pálido e ela respirava com dificuldade murmurando sempre coisas em Chinês — tenho quase certeza que era Chinês — e, esporadicamente, o pai respondia com um sussurro, sua voz transmitia tanta dor e preocupação que eu podia até não entender uma palavra do que ele dizia, mas as emoções fluíam em mim com uma violência assombrosa.

Olhos Vazios ✔ [DISPONÍVEL ATÉ 30/11]Onde histórias criam vida. Descubra agora