38. A Descendente de Han Liang

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Desculpe, pessoal, esse ainda não é o último capítulo. Não importa o quanto eu escreva, sempre fica algo que não expliquei e tenho medo de deixar alguma ponta solta. Se tiver algo que não expliquei até agora, por favor, me falem! Eu levei muito tempo para finalizar esse capítulo e não ia nem mesmo postá-lo agora, mas percebi que ele ficaria grande demais e isso poderia tornar a leitura cansativa. Quando ele atingiu seis mil palavras, decidi que era melhor parar e continuar num próximo. Vou terminar a história, não se preocupem, só que preciso fazer as coisas direito, não quero finalizar tudo de qualquer jeito, afinal, vocês merecem o melhor! 

***


Li Tong Dao

Eles tiraram o corpo dela da água, até aquele momento tudo parecia um pesadelo, uma espécie de realidade paralela que meu cérebro era incapaz de assimilar, os paramédicos fizeram os primeiros socorros, mas minha filha não abriu os olhos, ela não cuspiu água como os resgatados de afogamento, ela não voltou à vida. Quando os vi sobre ela — um deles gritou que ela estava viva —, meu corpo moveu-se sozinho na sua direção, lágrimas embaçavam-me a vista, queria abraça-la, aquecê-la com meu corpo, acordá-la eu mesmo, mas braços me impediram de alcança-la.

— Senhor Li, por favor. — Uma voz pediu, não reconheci de quem.

— Me soltem! — Bradei em desespero. — Eu quero ficar com ela! Ka Hua! Ka Hua!

Os paramédicos a colocaram em uma maca e correram para a ambulância, as portas fecharam quando um deles colocava uma máscara de oxigênio sobre o rosto dela, dois policiais tentavam me fazer caminhar para outra ambulância, mas eu só conseguia correr na direção da minha filha, só queria estar com ela. A realidade parecia deslocada, fantasiosa demais como a cena mal feita de um filme, imagens de Ka Hua morta me vinham à mente em um frenesi, o oxigênio pareceu ficar mais e mais escasso, as vozes dos policiais e paramédicos começaram a parecer longe demais, como ecos do topo de uma montanha, então tudo diante de mim escureceu e não senti mais nada.


— Bàba?

A voz melodiosa e aguda de Ka Hua preencheu cada espaço da minha mente, meu coração encheu-se de uma felicidade tão intensa que tinha medo de abrir os olhos e perceber que era apenas uma ilusão.

Nǐ zài shuìjiào ma?[1Você está dormindo?] — A risada dela provocou cócegas no meu ouvido. — Xǐng lái![2 Acorde!]

Incapaz de resistir a ela, abri os olhos para fitar — inicialmente desfocado — seu rostinho sorridente. Ela acariciou meu rosto delicadamente, as paredes brancas do quarto de hospital entraram em foco juntamente com o rosto delicado da minha bela filha, seus olhos cinzentos me fitavam com um brilho de ternura que fez um imenso alívio perpassar todo meu corpo, me sentia vivo de novo, pela primeira vez em muito tempo.

Ka Hua... Nǐ zhēn de zhèlǐ ma?[3 Ka Hua... você está mesmoaqui?]

Shì a! — Ela sorriu, abaixando-se para beijar-me a testa, então, seu rostinho ficou sério. — Bié dānxīn, Wǒ bù zài qù suídì.[4 Sim! Não se preocupe, nãovou a lugar nenhum

Ergui minha mão para tocá-la, ela era concreta, real, estava mesmo ali. Não lhe perguntei como era possível, não importava, tudo que importava era que ela estava bem, que estava ao meu lado. Minha pequena Ka Hua. Lágrimas de felicidade encheram-me os olhos, escorrendo pelas têmporas quando puxei-lhe para um abraço apertado.

Olhos Vazios ✔ [DISPONÍVEL ATÉ 30/11]Onde histórias criam vida. Descubra agora