Aidan
"Tentei continuar como se nunca tivesse te conhecido
Estou acordado, mas meu mundo está metade adormecido
Eu rezo para que meu coração seja inquebrável
Mas sem você tudo que eu serei é... incompleto."
— Incomplete, Backstreet Boys
Nada poderia me preparar para a volta de Li Ka Hua. Depois de duas semanas e meia, quase havia me esquecido que ela ia voltar, tentara me enganar que após o acontecido com o senhor Sojiru ela poderia querer ficar na China e nossos caminhos nunca mais se cruzariam. Eu estava errado. Apesar de tudo, uma parte traiçoeira de mim se tranquilizava ao vê-la bem, no fim de tudo não podia me forçar a deixar de sentir o que sentia por ela, não era algo que conseguisse controlar.
As coisas na escola estavam normais a despeito de tudo que aconteceu, muitas perdas no nosso convívio, ânimos alterados e expulsões pela chegada de Li Ka Hua, era verdade que o mundo não parava, mesmo que o meu mundo interno estivesse em ruínas, tudo à minha volta exalava mesmice cotidiana. Saía das aulas da tarde com mais trabalhos do que poderia lidar em um prazo tão curto, a classe 1 não era de brincadeira, você entrava ali para estudar até seu cérebro dar um nó, a menos que seu cérebro fosse o de Li Ka Hua. Olhando para o hall eu quase podia visualizar o senhor Sojiru, com sua inseparável pasta cheia de livros e papéis, sorrindo para os alunos e dando bronca nos que cabularam aula.
Porém quem entrou no meu campo de visão vinda do corredor da sala da direção foi ela. Li Ka Hua. Senti um gelo na espinha e uma ansiedade estranha no estômago, minha cabeça parecia explodir, uma parte queria correr até ela, abraça-la, beijá-la e dizer que tudo ficaria bem. A outra parte queria correr para bem longe e acabei não cedendo a nenhuma delas, apenas fiquei ali, parado, com o braço cheio de fichários olhando para ela como se visse um fantasma. Inicialmente ela fez menção de caminhar na minha direção, mas logo se deteve — como se bizarramente estivesse lendo meus pensamentos — e deu meia volta caminhando na direção das escadas e subindo os degraus sem olhar para trás. Alguns minutos depois o pai dela surgiu e seguiu direto para as escadas subindo os degraus de dois em dois, as garotas ficavam fofocando entre si e rindo como tolas conforme ele passava. Ele a deteve no fim da escadaria e os dois conversaram por alguns segundos antes de desaparecerem no segundo andar.
Virei as costas rapidamente e andei a passos largos para o dormitório, podia parecer estupidez (de fato o era!), mas na minha cabeça era como se ali dentro daquele apartamento estivesse a salvo dela. Fechei a porta com chave e larguei os fichários sobre o sofá da sala deixando o corpo cair na cama e tentando controlar a respiração descompassada. O sangue pulsava ecoando nos meus ouvidos e cabeça deixando-me dormente e entorpecido, outrora olhar nos olhos de Li Ka Hua era uma dádiva, ela sempre fizera aquilo parecer algo perigoso, proibido, tentador e não havia como negar a beleza singular dos seus olhos.
Só agora entendia que era realmente perigoso, proibido e mortal.
"As pessoas não têm o poder de nos ferir... — Dissera-me ela. — nós causamos sofrimento a nós mesmos ao darmos a chance de nos machucarem, escolhemos isso e é aí que mora o perigo, pois elas sempre sabem quando têm esse poder, quando são capazes de nos fazer escolher sofrer por elas. E uma vez com essa arma na mão nós nunca mais estaremos livres delas." Quando ouvi essas palavras pela primeira vez o sentido foi meio borrado para mim, eu tinha em mente que Li Ka Hua queria que eu ficasse longe dela, mas não tinha ideia do motivo e aquilo me frustrava. Agora elas faziam um sombrio sentido, entendi como ela se sentia quando disse cada uma delas, sentia na pele o que era estar sujeito involuntariamente a alguém e não ser capaz de se libertar disso.
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Olhos Vazios ✔ [DISPONÍVEL ATÉ 30/11]
Paranormal🏆ROMANCE VENCEDOR DO PRÊMIO WATTYS 2020 NA CATEGORIA FANTASIA!🏆 ATENÇÃO: GATILHO DE SUICÍDIO! Li Ka Hua esconde um segredo mortal. Filha do herdeiro de uma das mulheres mais poderosas da China, tudo que ela queria era sobreviver aos dois anos fina...