Olhos Vazios ✔ [DISPONÍVEL ATÉ 30/11]

Capítulo Especial

Li Tong Dao

Desde a primeira vez que seus olhinhos abriram-se para a luz, minha Li Ka Hua era uma criança tranquila. Quando a segurei nos meus braços pela primeira vez, um pouco temeroso e desajeitado, ela sorriu e aquele sorriso se tornou o centro do meu universo, a partir daquele momento tinha por certo que minha vida ganhara um novo sentido e que eu viveria em função dela para sempre. Abandonar minha família, meu país, o império construído pelo meu pai, tudo se tornou supérfluo e sem significado perto dela. Tudo que queria era ver a minha garotinha sorrir.

Quando descobri seu poder, aos nove anos de idade, temi pelo seu futuro. Sabia muito pouco sobre a maldição da minha família, fora as histórias terríveis contadas pelo meu pai secretamente, não se tinha muita informação a respeito da causa primária de tudo aquilo. Fizera pesquisas na internet, livros antigos, pedi até mesmo a Li Yuan, o único dos meus irmãos em quem confiava, que buscasse na biblioteca de casa qualquer coisa útil que pudesse me mandar, mas nada foi encontrado. Por ela, minha pequena vida, abandonei minha esposa e parti para o Japão em busca de respostas, manter Ka Hua a salvo era meu único objetivo, se fosse preciso, inclusive, daria minha vida por ela.

Eu tentei protege-la com tudo que tinha à minha disposição, não apenas o amor enorme que lhe dedicava, mas todos os meios que fossem necessários para garantir que ela cresceria forte e sem danos. Eu sabia, claro, que era uma tarefa hercúlea e fadada ao fracasso, mas como pai era impossível desistir. Cada dia que passava, minha Ka Hua crescia mais forte e independente, mesmo enfrentando dificuldades, ela resolvia seus problemas sozinha até onde conseguia. Foi intimidada nas escolas por onde passou, mas nunca baixou a cabeça por maiores que fossem as feridas. Dispensou guarda-costas por um treino rigoroso em artes marciais e eu mesmo a treinei para garantir que ela não se machucaria.

Não importava quão ferida estivesse, sempre quando se apresentava diante de nós, ela escondia suas feridas e nos presenteava com seu melhor sorriso para que não nos preocupássemos e, não fosse eu sempre atento e tão bom conhecedor de sua natureza, por vezes teria deixado passar problemas graves que podia resolver. Minha preciosa Ka Hua era especial, única e eu faria qualquer coisa, seria qualquer coisa, para protege-la.

Com o passar do tempo, Ka Hua foi se fechando mais em si mesma, as consequências das visões passaram a exigir mais e mais dela, tornou-se um pouco sombria, a convivência comigo durante dois anos no Japão nos aproximou ao ponto de ser o único capaz de realmente alcança-la coisa que preocupava muito Amélie. Nossa família aprendeu a adaptar-se a nova situação, mas nunca era fácil ver nossa menina assustada, sofrendo daquela forma. Mesmo com nosso apoio e amor incondicional, sempre me preocupei com o fato dela ser um pouco solitária, até Aidan aparecer.

Mesmo receoso, pelas demais amizades dela, que sempre haviam acabado muito mal, decidi dar um voto de confiança ao rapaz quando vi que ele tinha sentimentos sinceros por ela, coisa que por si só já era difícil demais para mim, como pai, aceitar. Ninguém nunca seria digno da minha menina, todavia tinha algo no olhar dela para ele, um sentimento de proteção diferente que até então eu não havia visto e, apenas por isso, concedi terreno a ele. Lá estava o resultado disso.

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48 horas

Havia escurecido. Até aquele momento não havia nada, um só telefonema ou mensagem que indicasse quem estava com ela. Na sala, dois detetives conversavam baixinho em um canto, Aidan estava sentado imóvel no sofá desde que chegara, ao seu lado, Amélie olhava para a mesa de centro, a expressão abatida desfigurando sua beleza. Não importava quanto eu olhasse a situação, parecia irreal, um pesadelo do qual acordaria a qualquer momento quando minha menina irrompesse pela porta e pedisse desculpas por ter se atrasado para o jantar. Realmente esperava a cada torturante segundo que isso acontecesse.