18. Interrogatório 06

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"Os olhos são cativantemente bonitos. Não por causa da cor, mas por causa das palavras que detêm dentro deles. " — Anônimo.

Localização: Delegacia de Sheffield.
Data: Domingo 19 de maio.
Dias Restantes: 0.

Jaxson tinha olhos castanhos. Escuros como a terra. Madeline olha para suas mãos, para a terra embaixo delas. Os olhos de Jaxson eram assim? Ela não tem certeza mais. Madeline é tomada pelo desespero. Ele se foi há poucas horas, mas ela sente que já está começando a esquecer pequenos detalhes.

Seu cabelo é loiro. Ele é alto. Tem uma covinha na bochecha direita. Jaxson é alérgico a café e ele tem uma cicatriz no braço, de quando quebrou ainda criança.

Tinha vinte e um anos. Cursava Engenharia Aeronáutica. Terceiro ano. Morava em um dormitório individual. Foi adotado. Tinha um dente lascado e cílios grandes, unhas roídas até a carne.

Jaxson tinha. Jaxson era. Tudo no passado, porque agora ele está morto e não passa de uma lembrança.

Madeline esforça-se muito para não comparar Nicholas a Jaxson, mas ele está sentado ao seu lado, e ela não consegue evitar, começando a pensar no que os torna diferentes: o cabelo de Nicholas é mais claro, seus olhos são azuis, límpidos como água; ela sabe que ele é mais baixo; Nicholas também tem menos músculos; ele continua vivo e Jaxson não.

Ela envolve seus braços ao redor do corpo, sente frio mesmo estando com o casaco de Nicholas, o qual ele gentilmente ofereceu a ela. As pessoas estão olhando para ela, algumas com pena e outras desconfiadas, aos poucos dissipando-se, indo embora em grupos.

As comparações seguem, ela pensa nas roupas deles e nas personalidades. Finalmente ela é chamada, e suas comparações são deixadas de lado. Mas, antes de afastar-se, Madeline vira-se para Nicholas. As palavras não saem, no entanto. Eles apenas se encaram, um longo silêncio se segue.

— Eu ainda não consigo acreditar que isso aconteceu — diz Nicholas depois da eternidade em que ficaram em silêncio. — Em nada disso.

— Nem eu — responde Madeline balançando seu corpo para frente e para trás. — Eu sinto muito que as coisas tenham acontecido dessa maneira para vocês.

Nicholas assente em resposta. — Pelo menos nós conseguimos fazer as pazes. — Responde ele, Madeline sabe que ele busca conforto em suas próprias palavras, se ele encontra, ela não sabe dizer.

— Yeah — diz Madeline dando as costas e afastando-se rapidamente, como se o policial estivesse apressando-a.

Madeline checa seu celular antes de entrar na sala. A mensagem que mandou para sua mãe quase uma hora da manhã está lá, assim como a resposta. Vou pegar o próximo trem. Madeline havia escrito que seu namorado havia morrido e ela precisava da mãe.

Sua mãe nem ao menos questionou a mensagem, apenas disse que estaria ali nas próximas horas. Madeline sabia que ela iria demorar, sabe-se lá quantas conexões e quantos transportes sua mãe teria que pegar. Mas ela disse que estaria ali e isso é tudo que importa.

Já faziam quase seis horas que ela mandou a mensagem. Mas Madeline esperaria. Ela guarda o celular no bolso do casaco que Nicholas emprestara a ela e entra na sala.

— Oi. — Diz Madeline, a voz saindo baixa e hesitante. — Obrigada, por me deixar ir com ele. — Continua olhando para o policial.

— Sem problemas — ele responde, indicando uma cadeira a sua frente. — Você tem certeza que quer conversar sobre isso hoje? — Pergunta ele parecendo hesitante assim como ela.

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