Foi difícil para Adriana acreditar nos próprios olhos quando Luís entrou na pequena estradinha de terra que desembocava à Vinícola Albuquerque.
O caminho de terra que cortava os vinhedos levava a uma das maiores casas que Adriana já vira. Em estilo colonial, o casarão que abrigava os negócios da família Albuquerque parecia saído de um filme de época, com suas janelas brancas e telhas avermelhadas. Adriana desceu do carro com o olhar encantado por aquele clima antigo, pelas escadarias de pedra que levavam à entrada principal do casarão e pelas vinhas que se estendiam ao redor da propriedade. Era como entrar direto em outro tempo, uma realidade perdida num passado distante.
Mas em vez de serem recebidos por uma dama em roupas antigas, viram uma moça de cabelos crespos, saia negra e blusa social branca aparecer no topo da escadaria. Segurando uma pasta com o monograma dourado da Vinícola Albuquerque na capa e um pequeno walkie-talkie, a moça desceu os degraus com uma expressão que misturava irritação e eficiência.
— Os investigadores de polícia? — perguntou ela. Luís assentiu, fazendo a jovem apertar um botão no walkie-talkie e dizer: — Obrigada, Hermes. Queiram me acompanhar, por favor.
Com um sorriso profissional, a moça virou as costas e subiu as escadas. Os dois policiais a seguiram de perto, e quando ela abriu as portas do casarão, Adriana se viu surpreendida pela brusca mudança de ambiente.
O interior do casarão não guardava nada do clima colonial do exterior. Exceto por detalhes de rodapé e chão, todos os móveis e objetos ali eram modernos, cromados. Uma recepcionista atendia o telefone atrás de um balcão arredondado, em frente a um grande monograma da Vinícola Albuquerque. Os sapatos de salto da moça que os acompanhava voltou a fazer seu clack clack contra o piso de madeira antiga, guiando-os por um corredor onde as paredes eram repletas de prêmios e condecorações recebidos pela vinícola.
— Sinto muito por Hermes — disse a moça, mas era claro que, na verdade, não sentia. Adriana observou como o nariz dela se enrugou ligeiramente antes de dizer: — Nossos seguranças não são autorizados a permitir a entrada de... de visitantes sem hora marcada.
Logo que chegaram em frente à vinícola, Hermes, o segurança que mais se parecia com um gorila halterofilista do que com um ser humano, barrou-os na entrada. Nem Adriana e Luís mostrando os distintivos foi o suficiente para intimidar o funcionário, que esperou por uma ordem superior para permitir que os dois seguissem pela estrada de terra que levava ao casarão. Luís, é claro, não estava nem um pouco feliz com a situação.
— A polícia não precisa marcar hora — retrucou ele, imediatamente trazendo um sorriso contido aos lábios de Adriana. — Ainda mais durante uma investigação de homicídio.
De repente a moça parou diante de portas de vidro temperado e sorriu com desdém, abraçando-se à pasta da empresa com autoridade. Luís sustentou o olhar dela com a mandíbula cerrada. Como se estivesse se divertindo com a irritação impertinente de um menino, a jovem sorriu e abriu a porta.
— A Sra. Albuquerque virá encontrá-los em instantes. Fiquem à vontade.
Assim que eles entraram, ela fechou a porta e sumiu. O único som que ouviram foi o clack clack dos sapatos da jovem que não demoraram a diminuir e, por fim, desaparecer. Luís deixou o ar escapar pelo nariz antes de dizer:
— Não se fazem mais funcionários como antigamente.
Adriana riu, balançando a cabeça e se virando para o escritório de Teodora Albuquerque.
Diferentemente do resto do casarão, onde tudo possuía a necessidade assustadora de demonstrar profissionalismo, o escritório de Teodora era um ambiente aconchegante, com estantes de madeira escura recheadas de livros sobre vinhos, uma sofá de couro marrom, tapetes no chão, uma mesa de vidro com o computador e algumas fotos emolduradas em porta-retratos antigos. Adriana deu uma volta despreocupada pela sala enquanto Luís observava os livros. Então, ela se deteve em frente à mesa, franzindo o cenho.
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Sob a Pele de Érica | ✓
Mystery / ThrillerApós meses planejando um final de semana romântico com o namorado, Adriana Souza, investigadora de polícia do Departamento de Homicídios de Porto Alegre, finalmente consegue a merecida folga do trabalho. É hora de fazer as malas e subir a Serra, cur...