15.

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— Isso vai dar merda.

Adriana trincou a mandíbula quando Dante disse aquilo pela quinta vez seguida. Ninguém ousava levantar a voz na delegacia, que parecia tomada por um silêncio de guerra. Os únicos sons que teimavam em interromper a quietude profunda da DP eram os dos ventiladores enferrujados e os guinchos da velha máquina de café.

Pedro, algemado à incômoda cadeira de metal da sala de interrogatório — que mais parecia uma saleta de almoxarifado comum, dessas com divisórias e vidros que davam visão da delegacia inteira ao suspeito — parecia derrotado. Com a camisa amarrotada, os óculos tortos e o rosto baixo, o rapaz não tirava os olhos da mesa. Ofereceram água e café a ele, mas Pedro limitou-se a negar com um gesto mecânico.

Foi quase impossível esconder a prisão dos jornalistas que se mantinham plantados nas entradas da DP. Flashes de câmeras explodiram nos rostos de Adriana e Luís enquanto guiavam Pedro, algemado, para dentro da delegacia. Bernardino quase teve um ataque cardíaco ao ver o filho de um dos homens mais poderosos da cidade sujo, amarrotado e algemado a uma cadeira feito um pivete de rua.

Com a cara vermelha, o delegado caminhava de um lado para o outro, balançando a cabeça. Seu queixo duplo dançava e suas mãozinhas rechonchudas tremiam. Nenhum policial ousou abrir a boca.

— Isso vai dar problema. Isso vai dar um problemão — resmungou ele para si mesmo, tão baixo que os outros quase não ouviram. Virando-se para os dois, Bernardino rangeu os dentes. — O que diabos vocês dois têm na cabeça?!

— Ele fugiu, senhor — retrucou Luís. — E agrediu um policial. Acho que isso é motivo suficiente pra algemar o guri.

— Foi um atestado de culpa — interveio Adriana. — Estávamos conversando quando Pedro empurrou Luís e correu.

— Se essa fuga foi um "atestado de culpa" — disse ele, fazendo aspas com os dedos gorduchos —, por que o guri tá enfiado naquela sala sem dizer uma maldita palavra há quinze minutos?!

Os outros policiais, alternando os olhos entre o delegado e os investigadores de Porto Alegre, não disseram nada. Ricardo, ao lado de Miranda, respirava pesadamente. Jorge, ao lado de Sérgio, apertava as mãos, esperando pela resposta de Adriana. Até Timóteo, o escrivão, saíra de seu posto para assistir à cena por cima da borda de sua xícara que dizia Sou Um Homem Pra Casar, Gatinhas.

Ela respirou fundo, engolindo os insultos que tinha vontade de jogar na cara do delegado. Ele ainda é teu superior. Ele ainda é teu superior. Girando o celular nas mãos, Adriana percebeu duas chamadas não atendidas de Gregório, que possivelmente já ouvira sobre a prisão de Pedro e não via a hora de saber mais. Abutre, a investigadora pensou, franzindo os lábios.

Quando o delegado reclamou outra vez, ela se levantou da cadeira e sorriu para Bernardino. Seus dedos comichavam, pedindo permissão para socar em cheio o nariz do delegado.

— Vamos tentar interrogar Pedro outra vez, senhor — assegurou ela. — Por favor, nos avise quando Martin chegar.

Com um sinal discreto para Luís e um olhar pesado para Dante, Adriana seguiu para a saleta de interrogatório sem dizer outra palavra.

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O primeiro ato que ela desempenhou, tão logo entraram na sala, foi o de fechar as persianas brancas com violência, se vendo livre da cara amarrada do delegado. Virou-se para Pedro, que ainda mantinha a mesma atitude cabisbaixa, e mirou seu parceiro. Os três caíram em silêncio, ouvindo, por trás das divisórias, o ronco da máquina de café.

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