27.

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Boa tarde, Patrícia. A confirmação do exame de balística na reta final do caso foi essencial para chegar aos possíveis culpados. As armas encontradas com Felipa Albuquerque, herdeira da Vinícola Albuquerque, foram utilizadas no assassinato de Verônica Camargo de Sá, madrasta de Pedro Camargo de Sá, até o momento, autor confesso do assassinato da jornalista Érica Baldini.

De acordo com o inquérito, Felipa Albuquerque e Pedro Camargo de Sá planejaram o assassinato da jornalista, que os teria chantageado após descobrir o relacionamento dos dois. Verônica Camargo de Sá, conforme o delegado informou à imprensa, foi assassinada como uma queima de arquivo pelo casal. As informações são extensas e serão liberadas conforme o decorrer do dia. Patrícia.

Quando o repórter tocou o ponto eletrônico no ouvido, Adriana socou o botão da velha televisão. A imagem se apagou, e ela fechou os olhos com força. Isso não tá acontecendo. Isso não tá acontecendo. Mas nem toda a força de seu pensamento a faria esquecer que os policiais de Lisiantos tinham os olhares cravados em suas costas, esperando por uma reação, uma direção que negasse aquele fechamento tão... esquisito. Ignorando todos eles, Adriana se virou para Dante, que tinha os braços cruzados e uma expressão vazia no rosto.

— Tu vai me dizer que acredita nessa porra?

Dante não respondeu, levantando os olhos como o cãozinho que cai do caminhão da mudança. Adriana trincou a mandíbula e, numa voz grave, afirmou:

— Não foram eles. A gente tá cometendo um erro. Só eu que consigo ver isso? — Nenhum dos policiais respondeu. Sérgio e Jorge olhavam para o chão. Ricardo e Miranda se apoiavam na mesa em frente, evitando mirar Adriana. Nem Timóteo, o escrivão engraçadinho, sorria. — Vão indiciar Felipa e Pedro sem provas, caralho!

Ela esmurrou a mesa. Se controla. Adriana não conseguia acreditar naquele desfecho tenebroso para um caso que tomou tanto tempo e tantas noites de sono dela.

— O exame de balística comprovou que a bala foi disparada por uma das armas da Felipa, Adri. Isso é mais do que o suficiente pra incriminar alguém — Dante disse sem vontade, como se explicasse a uma criança por que enfiar o dedo em tomadas não é uma boa ideia. — E as impressões digitais...

— Felipa nunca negou que as armas eram dela, Dante! — retrucou Adriana. — E Pedro. É óbvio que ele tá entrando nessa pra Felipa não arcar sozinha com a culpa. Porra. Abram os olhos!

Quando a confirmação de que Felipa havia possivelmente assassinado Verônica surgiu, a morte de Érica se agarrou à jovem como uma sombra. Se ela matou uma vez... As reticências cresceram na mídia, e se não fosse Pedro assumir a improvável culpa pelo assassinato de Érica, a situação de Felipa só pioraria. Agora, com os jornalistas enlouquecidos por uma declaração do casal assassino, os limites eram turvos, e os dois eram vistos como cúmplices em ambos os casos.

— Pedro tá se colocando na linha de tiro pra proteger a Felipa — insistiu Adriana, a voz firme. — Eu duvido que eles saibam ao menos explicar como mataram Érica. Eles não têm um motivo plausível pra nenhum dos crimes.

— E o que a gente faz agora? — perguntou Miranda. Olhando para os colegas, que mal ergueram os rostos derrotados, ela engoliu em seco. — Se... se a investigadora acredita que não foram os dois...

— Não tem o que fazer. — Dante suspirou. — Felipa tem contra si os laudos e Pedro confessou. Não tem nada que a gente possa fazer ou...

— Boa-tarde, boa-tarde!

A voz de Dante sumiu quando Bernardino entrou na delegacia com o maior sorriso que um homem poderia ostentar. Adriana trincou a mandíbula e cerrou o punho, observando o delegado bambolear entre as mesas como um campeão. Ela recebeu um olhar de advertência de Dante. Não faz isso, Adri. Não faz isso, Adri, ele suplicava, mas dentro de Adriana crescia um turbilhão de desprezo e raiva não só contra Bernardino, mas contra todo um sistema que ela nunca poderia vencer.

Sob a Pele de Érica | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora