07.

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O semblante do rapaz empalideceu ao ouvir aquelas palavras, os óculos escorregando pelo nariz altivo que era uma cópia do de seu pai. Pedro piscou mais algumas vezes, e algo naqueles olhos castanhos arregalados fizeram Adriana estremecer. Nervoso, ele estendeu a mão e cumprimentou os investigadores. Adriana sentiu a palma suada do rapaz contra a sua, e nada afastou o pressentimento que a invadiu.

Pedro tá com medo. Ela ainda não sabia do quê ou de quem, mas até um cego veria que o rapaz não se sentia confortável na presença deles. Seus olhos castanhos pulavam de um a outro, brilhando por trás das lentes arredondadas. Aquilo na testa pálida de Pedro seria suor?

— Muito prazer — disse ele, um sorriso ansioso surgindo em seu rosto. Com uma olhadela rápida ao pai, ele assentiu. — Não quis atrapalhar. Posso voltar outra hora com os resul...

— Na verdade, gostaríamos de uma palavrinha — interrompeu Luís, sorrindo para o rapaz. — Se não for incômodo, é claro.

Pedro Camargo de Sá pareceu levar um soco no estômago. Ele engoliu em seco, seu pomo-de-adão avantajado tremelicando ligeiramente.

— Na verdade, eu tava de saída — disse ele, buscando apoio no pai. Martin franziu o cenho. — Só vim falar sobre os resultados e já tava...

Ele se calou, e Luís pressionou-o com seu melhor olhar de policial. Adriana costumava ver o parceiro usar o mesmo olhar com Bárbara, quando ela sempre se esquivava de responder se estava namorando com o baterista cabeludo da banda que participava ou não.

— Só algumas perguntas, Pedro. — Ela indicou a cadeira que previamente ocupava e sorriu para Luís antes de arrematar: — Prometemos ser rápidos. O que nos diz?

— Ele ficará, investigadores. — Martin sorriu para os dois, ignorando o olhar desesperado do filho. Apertando discretamente o ombro ossudo do rapaz, ele completou: — Mas se não se importam, preciso voltar à vinícola. Mesmo no final de semana os imprevistos não param de chegar.

— Teremos outras oportunidades para continuar a conversa — disse Luís, e Adriana assentiu.

Quando a porta do escritório se fechou atrás de Martin, Pedro se sentou. As costas rígidas e os olhos presos ao relógio de pulso vintage que usava. Adriana aproveitou para observá-lo.

Pedro poderia se passar, facilmente, por uma versão mais jovem do pai. Os mesmos cabelos castanhos volumosos, o mesmo nariz reto e altivo e até as mãos, com as pontas dos dedos quadradas, eram idênticas às do pai. A única diferença entre eles, Adriana percebeu, era que os olhos de Pedro ainda eram nervosos, cheios de juventude e curiosidade. Se não fosse por isso, e pelos cabelos grisalhos que coloriam as têmporas de Martin, eles seriam iguais.

— Eu combinei de sair com uns amigos. — Ele engoliu em seco, coçando o pescoço e puxando o celular do bolso traseiro da calça. — Eles vão me ligar, e eu...

— Quando eles ligarem, tu sai — disse Luís com um sorriso amigável, apoiando-se na mesa e cruzando os braços. Pedro assentiu para os próprios joelhos. — Quando foi a última vez que tu viu Érica com vida?

— Não sei. Ela vinha aqui muitas vezes por dia. — Pedro apertou o celular entre as mãos. — Meu pai a ajudava com algumas informações pro livro. É tudo o que sei.

— Tua madrasta disse que vocês conversavam bastante — disse Adriana como quem não quer nada. — Que quando teu pai não podia atender ela, era tu quem fazia as honras. Vocês dois eram próximos?

Pedro ajeitou os óculos e, nervoso, coçou o pescoço outra vez, deixando uma marca vermelha na pele branca. Então, enquanto ele pensava na melhor resposta, algo chamou a atenção dela.

Sob a Pele de Érica | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora