06.

2.2K 336 164
                                    

Sentada no sofá de couro branco no centro da requintada sala-de-estar dos Camargo de Sá, Adriana sorriu para o velho mordomo pela décima quinta vez. A brisa característica da serra trouxe até eles o cheiro das rosas amarelas que descansavam num lindo vaso do aparador próximo à janela, mas o aroma delicado das flores não foi o suficiente para aplacar a irritação que crescia dentro dela. Luís se mexeu no sofá, um vinco se formando entre as sobrancelhas castanhas.

Com uma olhada discreta para o relógio de pulso surrado, a investigadora trincou a mandíbula. Quinze minutos, pensou ao ouvir os irrigadores da grama do jardim se ativarem outra vez. Quinze minutos e nada de Martin Camargo de Sá.

A cada momento que passava, ela via a irritação crescer em Luís. Contendo-se para não vasculhar a casa, ele cruzava e descruzava os braços, andava pela ampla sala, olhava as fotografias expostas em cima da lareira, bufava e, por fim, se sentava antes de repetir o processo. Adriana o acompanhava com os olhos, imaginando onde, naquela casa que mais parecia uma mansão de Hollywood, estaria o todo-poderoso Martin Camargo de Sá. Luís se atirou no sofá novamente, afundando no assento como um adolescente contrariado.

Antes que ele pudesse dirigir um insulto ao mordomo, Adriana sorriu e aceitou a oferta de um cafezinho. Tão logo o velho e sua careca manchada deixaram a sala para providenciar o café, Luís reclamou:

— As pessoas dessa cidade adoram deixar a polícia esperando, não?

— É um direito que eles têm — admitiu Adriana, dando de ombros e se levantando para espiar para a janela que dava ao imenso jardim. — Sem um mandado fica impossível exigir o que quer que seja. Tu sabe como funciona.

Ele bufou, cruzando os braços na poltrona. Adriana suspirou para o jardim, observando a brisa balançar a grama bem aparada e tremular a água límpida da piscina. Quando o mordomo voltou com o café, a porta de entrada foi escancarada. Como Luís, Adriana virou o rosto rapidamente, curiosa para saber quem entrava na mansão dos Camargo de Sá.

A primeira coisa ela viu foram sacolas coloridas. Dezenas delas. Amarelas, rosadas, pretas, vermelhas, roxas e verdes. Sacolas de lojas diferentes, com papéis coloridos e marcas engraçadas na frente. Então, os olhos de Adriana viram uma mulher curvilínea, bronzeada e terrivelmente agitada entrar na sala. Com a mão livre, a estranha tirou os óculos-de-sol e sorriu para o mordomo.

— Godofredo, querido, me ajude aqui? — perguntou ela, apertando os lábios. O decote de sua blusa branca quase deixou à mostra mais do que deveria quando a mulher largou as sacolas no chão, caminhando em direção ao bar. — Está um dia tão quente! Terrível. Beth já me ligou? Combinamos um encontro no clube, mas ela não deu sinal de vida até agora. A bobinha deve estar atrás do marido, pensando que ele está com alguma das secretárias.

Luís ergueu as sobrancelhas para Adriana, que franziu o cenho. A mulher ajeitou os cabelos negros com um gesto displicente. Suas pulseiras tilintaram, e o reflexo das unhas vermelhas brilharam na garrafa de uísque escocês. Segurando um copo, ela se virou de repente, finalmente notando a presença dos investigadores. A postura da mulher se alterou no instante em que os viu, piscando para aquela visita surpresa.

Recompondo-se, ela sorriu. Para não alongar ainda mais aquele silêncio esquisito, Luís se ergueu da poltrona e estendeu a mão. Adotando a voz policial que Adriana ouvira tantas vezes, ele disse:

— Boa tarde, senhora. Sou Luís Machado, e estou aqui com minha parceira, Adriana Souza, para investigar o caso de assassinato de Érica Baldini.

A mulher assentiu, tomando a mão que Luís oferecia com um gesto lento, como se fosse uma gata se enroscando num sofá. Adriana percebeu um brilho insolente nos olhos negros dela, como se avaliasse as palavras de Luís com outras intenções.

Sob a Pele de Érica | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora