23.

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Adriana franziu o cenho quando a luz do sol irradiou sobre seus olhos. Com um grunhido, ela esfregou o rosto e afastou os lençóis, jogando as pernas para fora da cama. Ou pelo menos foi o que tentou fazer antes de sentir a pressão de um braço que a manteve no lugar. Ainda sonolenta, Adriana ouviu um resmungo rouco. Quando virou o rosto e viu Luís ressonando baixinho, envolvendo seu corpo num abraço apertado, o sono a abandonou instantaneamente.

Os ombros dele subiam e desciam num ritmo lento, e presa naquele abraço quente, Adriana sentiu o perfume de Luís em seu travesseiro, nos lençóis e até na própria pele. Não querendo acordá-lo, ela tentou se esgueirar para fora da cama, mas ele grunhiu e se aninhou na curva do pescoço de seu pescoço. Adriana suspirou, acariciando o topo da cabeça de Luís, que sussurrou numa voz sonolenta:

— Fica.

Adriana não respondeu, e ele não demorou a cair em sono profundo outra vez, puxando-a para mais perto. Ela sorriu com o canto dos lábios e o observou dormir antes de, lentamente, se esgueirar para fora do abraço de Luís. Ele grunhiu outra vez, mas não se acordou.

Sentada na cama, Adriana esfregou os olhos, deixando um suspiro escapar. Espreguiçou-se e, sem olhar para Luís, ergueu-se da cama antes de ceder aos próprios desejos de ficar com ele. Adriana deixou duas Aspirinas na mesinha de cabeceira, silenciosamente, foi ao banheiro, seus passos abafados pelo carpete.

De maneira quase automática, ela prendeu os cabelos num rabo-de-cavalo e admirou o próprio reflexo no espelho. As marcas da noite que passou com Luís subiam por seu pescoço, criando uma trilha vermelha contra a pele pálida de Adriana. Ela trincou a mandíbula, pensando na maquiagem que teria de usar para camuflar a passagem dele por seu corpo. Os olhos verdes de Adriana a encararam de volta, acusando-a de algo que, verdade seja dita, ela não se arrependia. Pelo menos não totalmente.

Com um suspiro, Adriana puxou a blusa de alcinhas pela cabeça e entrou no chuveiro. A água morna caiu sobre suas costas como um abraço gelado, e ela fechou os olhos apenas por um momento. Os sons da cidade não chegavam a seus ouvidos, e isolada pela quietude do banheiro e do ritmo da água que corria, Adriana pensou no que faria. Agora, era hora de pensar.

Enquanto a água caía em suas costas, Adriana considerou as opções que possuía. A primeira e mais aterrorizante de todas era esperar por Luís, que certamente a confrontaria sobre a noite que passaram juntos, e ouvir o que ele tinha a lhe dizer, apesar de já desconfiar do teor de suas palavras. Ou Adriana poderia ignorar o assunto como fizera da última que vez em transaram, há dezesseis anos.

Depois daquela noite na faculdade, Adriana fez o que pôde para rechaçar a conversa que Luís tanto procurava. De longe, a segunda opção era a mais atraente. Ignorar outra vez e seguir como se nada tivesse acontecido. O único problema era, justamente, ignorar o que acontecera noite passada.

Ela achava desconcertante o fato de, mesmo bêbado, Luís saber como deixá-la confortável e excitada na medida certa. Os anos de intimidade entre eles faziam Adriana relaxar por inteiro, algo que não acontecia com Otávio. Então, para seu breve desespero, ela se pegou sorrindo ao pensar em Luís. Não, porra. Adriana trincou a mandíbula e desfez o sorriso, fechando os olhos por alguns segundos.

Pensar em Luís daquela maneira a confundia, mexia com suas ideias de uma maneira que a assustava. Ela sempre esteve ciente acerca dos sentimentos dele; Adriana não era cega, e a discrição não constava como um dos pontos fortes de Luís. Entretanto durante todos aqueles anos, ela nunca se questionou como se sentia em relação a ele.

Da primeira vez, Adriana ignorara Luís porque era jovem e não procurava nada sério na época — alguém com dezenove anos procura, verdadeiramente, qualquer coisa séria? Agora, porém, ela sabia que deveria afastar aquele assunto por um motivo diferente, uma razão que Adriana procurava não dar forma ou existência fora de sua mente, mas que estava ali, esperando para ser apontada.

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