25.

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Adriana levantou os olhos quando Dante lhe alcançou outro copo de café. Cansada, ela sorriu mesmo sem vontade, brincando com o copinho enquanto ouvia a voz grossa de Bernardino discursar sobre o último crime na sala de reuniões da DP. Ele gesticulava, erguendo o dedo indicador gorducho e tentando levantar o moral destruído do grupo de policiais que o encarava sem realmente prestar atenção.

A morte de Verônica completava, naquele dia, uma semana. Uma semana de jornalistas tentando invadir a delegacia, uma semana de comentaristas massacrando a polícia de todas as maneiras possíveis em todos os meios de comunicação possíveis e imagináveis. O caso do Esfolamento de Érica Baldini completava dois meses, e justo quando estava perdendo força nos telejornais sensacionalistas e blogs mal-acabados, a morte de Verônica reacendeu a chama na mídia. Que timing perfeito.

Quando Bernardino fez uma pausa para respirar, Dante pigarreou discretamente. Os policiais, ávidos para se livrarem da falação inútil do delegado, agarraram-se à interrupção feito um colete salva-vidas. Dante tamborilou os dedos em cima de uma pasta e assentiu para Bernardino.

— Obrigado pelas palavras, delegado. É realmente importante contar com seu... auxílio. — Dante sorriu sem graça para o delegado falastrão e espalhou algumas fotos do corpo de Verônica na mesa. Os policiais se inclinaram para enxergar melhor. — Aqui estão algumas fotos tiradas pela Perícia. Recebi os laudos ainda hoje.

— E quais os resultados? — perguntou Miranda, ignorando o olhar torto de Bernardino.

Sem fazer mistério, Dante deu de ombros e suspirou, entregando aos colegas as cópias dos laudos.

— Nada além do esperado. Morte decorrente de disparo de arma de fogo, sem sinais de agressão ou violência sexual. Foi, basicamente, uma execução. O assassino atirou na parte de trás da cabeça da vítima, que possivelmente não deve ter visto sua chegada.

— E o exame de balística? — perguntou Sérgio, virando a folha da própria cópia.

— Também sem grandes resultados. — Dante girou uma fotografia na direção deles. — Os peritos acreditam que o projétil seja de uma .38 e que tenha sido disparada de uma distância de até dois metros. Quem manejou isso sabia bem o que estava fazendo.

— E a hora da morte? — Jorge perguntou, apertando as mãozinhas gorduchas. — Eles conseguiram estimar isso?

— Conseguiram — Dante respondeu e olhou para Adriana, que assentiu. — Mas acredito que a investigadora Souza possa falar melhor sobre isso.

Vamos lá. Adriana pegou o celular na bolsa e procurou o printscreen que tirara da própria tela na noite do assassinato de Verônica. Mostrando aos outros policiais, disse:

— Recebi uma ligação da vítima às 23h10, marcando um encontro na praça, porque, aparentemente, ela conhecia a identidade do assassino de Érica. Saí no mesmo instante, a pé, e cheguei à praça por volta das 23h20. Ouvi um disparo e corri na direção do lago. Não saberia precisar a hora, mas acredito que o disparo tenha sido efetuado entre minha chegada e, no máximo, 23h30.

Ela olhou para Dante, que assentiu e disse:

— A Perícia acredita o mesmo, mas...

— Acho que é importante a investigadora explicar o motivo de não ter acionado a Central quando recebeu a ligação de uma testemunha importante como essa.

Adriana virou o rosto para Bernardino, que apoiava as mãos na ponta da mesa. Os ventiladores rugiram do lado de fora da sala, e Adriana trincou a mandíbula. Mais essa agora. Os outros policiais esperavam por uma resposta, lendo os laudos da perícia e observando o delegado com o canto dos olhos.

Sob a Pele de Érica | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora