12.

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— Porra, aonde esse guri tá indo?

Luís reclamou pela milésima vez com os dentes trincados, e Adriana compartilhou silenciosamente daquele mesmo questionamento. O que tu esconde? Se o palpite dela estivesse certo, em breve descobririam. Já o acompanhavam há alguns minutos pelas ruazinhas apinhadas de turistas que entravam e saíam das lojas com sacolas de chocolate e caixas de vinho nas mãos, e Pedro não dava sinais de querer parar.

Seguiam mais atrás, pela mesma calçada, mas parando ocasionalmente para admirar vitrines e esquivar-se dos olhares assustados do rapaz. Adriana apertou a alça da bolsa, mirando a parte de trás da cabeça de Pedro como se o simples ato pudesse responder a suas perguntas insistentes.

Quais seriam as razões de todo aquele... cuidado? Como um ladrão que receia ser pego, Pedro caminhava encurvado, seus olhos castanhos observando cada canto e loja, todas as pessoas que passavam na rua principal. As mãos dele, fechadas em punho, tremiam, e os cabelos desarrumados davam a Pedro uma aparência alternativa que condizia com aquela condição de fugitivo.

Luís empurrou Adriana para dentro de uma ótica quando Pedro virou a cabeça, procurando por alguém. Os dois ficaram em silêncio, apoiados na porta e observando, esperando que ele se virasse e seguisse seu caminho. O coração de Adriana batia furioso no peito quando o lojista, confuso com aquela entrada inesperada, aproximou-se.

— Não queremos nada, amigo — disse Luís, puxando Adriana para fora da loja e ignorando a cara feia do atendente. — Tu acha que ele nos viu?

— Acho que não. — Ela esticou o pescoço. Pedro atravessou a rua, as mãos enfiadas nos bolsos. Com uma boa olhadela para os dois lados, ele seguiu em frente. — Pelo menos ainda não.

Atrás dele, voltaram às calçadas da rua principal repleta de lojinhas. Vendedores de artesanato tentaram empurrar bolsas, colares e brincos à Adriana, que desviou habilmente de todos. Com os olhos fixos em Pedro, ela sentiu a antecipação do encontro crescer. Aonde tu tá indo? Com quem tu vai te encontrar?

Pedro não olhava para nada, como se apenas o objetivo final o interessasse. Ignorou os vendedores ambulantes e o pipoqueiro, e remexeu as mãos nos bolsos, seguindo em frente. As manchas de suor cresciam em sua camisa. Foi aí que Adriana cometeu um erro.

Passavam em frente a um brique quando Pedro estaqueou, abrindo ligeiramente a boca. Pelo espelho de bordas douradas exposto na rua, seu olhar castanho assustado fixou-se no fundo da alma de Adriana. Por trás dos óculos de aro grosso, seus olhos injetados brilharam, e ela entendeu que haviam perdido a chance de descobrir aonde Pedro iria. Por causa de um maldito reflexo.

— Ele me viu — sussurrou ela com um gosto amargo na boca, virando-se para um ambulante. — Disfarça.

Com o canto dos olhos, ela percebeu Pedro arregalar os olhos para eles, sacando o celular do bolso traseiro das calças. Seus dedos enviaram uma mensagem rápida, e ele voltou a enfiar o aparelho no bolso. Atravessando a rua, Pedro entrou numa cafeteria de esquina, sentando-se numa mesinha na rua.

Observando-o de longe, Luís descansou as mãos na cintura. As bandeirinhas nos postes tremelicaram com a brisa e mais turistas sorridentes, carregando compras, passaram. Uma garçonete baixinha serviu Pedro, que bebeu seu café lentamente, observando o movimento. Mesmo de longe, mesmo com aquela pose tranquila, Adriana percebeu que as mãos dele tremiam.

Luís coçou a barba, suspirando. Uma música irritante, vinda de uma máquina de sorvete italiano atrás deles, voltou a tocar. Adriana fechou a cara, recebendo uma olhadela de Luís, que perguntou:

— Tu acha que ele vai se encontrar com alguém?

— Se ia, não vai mais — retrucou ela. Encarando a mesa de Pedro, que bebia outro cafezinho, Adriana grunhiu. — Vamos almoçar.

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