14.

1.5K 306 64
                                    

Seguir Pedro não se mostrou exatamente uma tarefa fácil. Os turistas, ansiosos por ver as flores do festival, se esbarravam uns nos outros, crianças corriam entre eles, e os vendedores, não querendo perder nenhum potencial cliente, não mediam esforços para chamar atenção.

Em minutos, a cena idílica de paz e alegria com crianças sorridentes e famílias relaxando na grama transformou-se numa amostra do próprio inferno. Adriana e Luís desviavam dos obstáculos como conseguiam, mas eram invariavelmente atingidos por sacolas, arranjos de flores e crianças que não paravam de gritar e correr entre os estandes.

Pedro, sem se abalar, seguia em frente sem erguer os olhos do celular. O mundo poderia estar desabando a seu redor, mas Adriana tinha certeza de que nem uma catástrofe iminente poderia desviar sua atenção das mensagens que recebia. Com quem tu tanto fala? Aquela perguntinha insistente não a abandonava, indo e voltando como um maldito ioiô. Pedro desviava automaticamente de tudo e todos que o cercavam como se estivesse numa fase de vídeo game conhecida. Direita, esquerda, esquerda, direita e seus olhos nem por um momento deixaram a tela do celular.

Adriana engoliu em seco, lembrando-se do olhar injetado de Pedro que a encarou através do espelho envelhecido na rua. O medo presente na expressão dele, os dedos que rapidamente digitaram uma mensagem a alguém, possivelmente avisando que estava sendo seguido. E já passou da hora de descobrir quem tá do outro lado. Adriana e Luís seguiram de cabeça baixa, observando o rapaz discretamente enquanto ele avançava pelo festival.

Então, como uma corça que sente a presença de um predador, Pedro parou e ergueu a cabeça. Alerta, Adriana empurrou Luís para trás de uma árvore no exato momento em que Pedro pareceu tomar nota do que o rodeava. Desconfiado, o rapaz olhou em volta pela primeira vez, mirando cada rosto da praça lotada, mas procurando por eles. De longe, Adriana viu o mesmo olhar ansioso e assustado que vira na rua. Quando Pedro guardou o celular no bolso e ajeitou os óculos, Adriana entendeu que precisavam agir rápido.

— Vai pela direita que eu cerco ele pela esquerda — disse ela.

— Adri, tu não acha que...

— Vai. Separados a gente tem mais chance.

Ele engoliu qualquer recusa e assentiu, distanciando-se dela e da árvore de tronco grosso com as mãos nos bolsos e os olhos pregados em Pedro. Com um sinal silencioso para o parceiro, Adriana se moveu. Trocando olhares com Luís, ambos cercaram o filho de Martin como leões prestes a abater uma zebra. Todas as horas que Adriana passou assistindo aqueles documentários na televisão, afinal, não foram em vão.

Seguiram em silêncio, mas Pedro já dava sinais de ansiedade quando chegaram ao belíssimo espelho d'água da praça. O rapaz caminhou com mais pressa, evitando olhar para trás. Adriana trincou a mandíbula. Tu não vai fugir de novo. Agora era uma questão de honra.

Ela não deixaria Pedro perceber. Adriana estragou tudo uma vez, se deixando ser vista pela presa. Não permitiria que o mesmo erro acontecesse uma segunda vez.

O dia quente se erguia sobre eles, iluminando as flores e os rostos sorridentes. O único que parecia se assustar a cada movimento era Pedro, que olhava em volta como se pudesse ser vítima de um assassinato diante dos olhos de todos. Adriana desviou de um pipoqueiro, cercando Pedro, aproximando-se aos poucos. Do outro lado da praça, viu Luís assentir discretamente, fechando cada vez mais o cerco.

Quando Pedro estacou outra vez, ela fez um sinal para Luís. Desviando dos turistas com agilidade, ele se aproximou cada vez mais do alvo. Adriana fez o mesmo, cortando caminho através das crianças e das famílias jogadas na grama. Quando chegaram perto suficiente de Pedro, ele estava cercado pelos dois lados.

Sob a Pele de Érica | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora