26.

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— Qual é, cara! Tira essas algemas imundas de mim agora!

Depois de enfrentar uma maré de jornalistas ansiosos que enfiou celulares, gravadores, microfones e câmeras em seu rosto, Adriana conseguiu se esgueirar para dentro da delegacia. A frase dita por uma voz feminina, diretamente da sala do delegado, fez seu sangue gelar.

Pelo vidro, Adriana viu cabelos cor-de-rosa, shorts rasgados e uma Felipa Albuquerque se contendo para não pular na jugular de Bernardino. Do lado de fora, a investigadora piscou, vendo a irritação de Felipa escorrer pela salinha do delegado como areia numa ampulheta. Ladeada pela mãe e a avó, a jovem fazia menção de investir contra o delegado, mas era contida tanto pelas algemas quanto por Teodora e Vitória.

— Onde tu se enfiou?! Acho que te liguei umas mil vezes!

Dante apertou o braço de Adriana, que piscou outra vez, finalmente enxergando o amigo. Dante, que nunca demonstrava medo ou ansiedade, tinha os olhos arregalados. Adriana abriu e fechou a boca, confusa demais para expressar qualquer coisa.

— Eu estava com... — Adriana se interrompeu quando Felipa gritou outra vez. — Que merda é essa? Os jornalistas tão loucos lá fora.

Dante engoliu em seco, puxando Adriana em direção à sala do delegado. Passaram por Ricardo, Miranda e Jorge, que esperavam ansiosos do lado de fora. Antes de entrarem na sala, Dante sussurrou:

— Bernardino acredita que a Felipa matou a Verônica. Agora não dá pra explicar.

Antes que Adriana pudesse ficar surpresa, Dante enfiou-a para dentro da sala e entrou, fechando a porta atrás de si. Felipa puxava o punho algemado à cadeira, grunhindo. Quando se virou e viu Adriana, revirou os olhos.

— Agora o circo tá completo.

Teodora, entretanto, se adiantou. Segurando os óculos de sol com uma expressão de alívio, ela disse:

— Ainda bem que está aqui, investigadora. Poderia, por favor, explicar ao delegado que Felipa não precisa de porte de arma para...

Adriana ergueu uma das mãos, pedindo silêncio.

— Sra. Albuquerque, eu não sei nem por que a Felipa tá aqui. Acabei de...

A investigadora não precisou esperar por uma resposta. Do outro lado da mesa, Bernardino foi rápido em dar uma risadinha, sua barriga saliente ameaçando explodir os botões da camisa azul que usava.

— Ora, investigadora, mas não seja por isso. — O delegado empurrou para cima da mesa dois sacos plásticos transparentes, cada qual contendo uma pistola antiga dentro. — A Srta. Albuquerque foi presa em flagrante por manuseio de armas de fogo em local público sem autorização, e muito menos um porte de arma. Recebemos uma denúncia, e Sérgio e Jorge foram rápidos em che...

— Pelo amor de Deus, cara! — reclamou Felipa, repuxando a cadeira com o braço preso. Vitória permaneceu em silêncio, apertando as mãos repletas de anéis. — Eu já disse que tô fazendo uma porra de um curta com essas armas. Aposto que essas porcarias nem devem funcionar!

Adriana franziu o cenho para Dante, que tinha os braços cruzados. Poderia Felipa ter atirado contra Verônica com tamanho sangue frio? Teodora trincou a mandíbula quando o delegado deu uma risadinha outra vez.

— Explique isso ao juiz, menina. — Ele bateu as mãos rechonchudas na mesa, desmanchando o sorriso debochado. — A esposa do Sr. Camargo de Sá foi morta, e a senhorita é vista com armas no local do crime. Pega em flagrante. E o que me diz de Érica Baldini? Também foi a responsável por isso?

Sob a Pele de Érica | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora