Capítulo 2

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Noviça


Melissa


No convento – Na verdade noviciário, pois primeiro eu teria que ser noviça, para depois me tornar uma freira e cumprir meus votos de pobreza, castidade e obediência, fui muito bem recebida pelas irmãs. Era uma Congregação extremamente rígida, de costumes e tradições criteriosas e sérias. Minha mãe escolheu a dedo a Congregação das Irmãs do Puro Coração. Foi uma Irmã de aparência austera quem abriu a porta, me convidando para entrar. Já com os dois pés dentro do salão principal me deram as boas-vindas. Timidamente eu agradeci e encolhi meus ombros olhando para baixo, pressionando a mala contra o corpo.

— Aparecida? – A irmã que abriu a porta indagou.

— Sim! Sou eu, irmã!

— Eu sou irmã Maria Cristina e essa ao meu lado é Maria Rebeca. Somos as religiosas que ministram os ensinos para que as noviças tornem-se freiras.

— Certo. — respondo tentando soar empolgada.

— Estávamos a sua espera. – A Irmã Cristina acrescentou.

— Desculpem o atraso, é que o trânsito...

— Shhh! Entre, por favor! — disse empurrando com gentileza as minhas costas e me conduzindo para dentro.

O piso preto e branco, era semelhante a um tabuleiro e se acaso eu me abaixasse, poderia jogar xadrez nele. As aberturas eram extremamente altas e nos vidros das janelas havia desenhos que pareciam terem sido pintados à mão com as cores do arco-íris, assim como podemos ver em algumas igrejas antigas.

O meu chapéu quase voou com o vento, mas fui mais rápida e o pressionei com as duas mãos contra a cabeça. Irmã Cristina sem demora encostou a porta. Ela e Rebeca me abraçaram docemente.

A Madre Superiora me deixou aos cuidados de Rebeca, que era encarregada de cuidar das noviças. Ela me conduziu pelo corredor, até dobrarmos a direita, subir dois lances de escadas estreitas e ficarmos diante da porta de um cômodo muito simples.

Não havia nada lá, se não uma prateleira alta, uma máquina de costura e uma poltrona empoeirada. Sobre a camada de tinta na parede um crucifixo, na prateleira, tecidos dobrados e separados por duas cores apenas.

Na parte mais alta da prateleira havia a metade do corpo de um manequim com uma fita métrica sobre seu ombro, para ajudar com as medidas. Faltavam algumas partes importantes nele. Entre elas a cabeça e os braços. Também faltava um coração e eu me identifiquei.

Em cima da máquina dois novelos de linha também em duas cores. No preto, uma agulha estava enfiada entre as voltas feitas pelo fio. Lembrei das costuras da minha vó, dona Rosa, quando reformava minhas roupas e com os retalhos, fazia roupinhas de boneca para mim.

Embora todas estas coisas estivessem dentro daquela sala, ela continuava vazia. Entre os quatro cantos, no direito, havia uma porta, porém, não tão alta quanto as outras. Era um banheiro.

— Venha cá, minha querida! Pode deixar as coisas aqui. – Rebeca apontou para a poltrona marrom. Agora tome isto.

Entre as duas estruturas de tecidos empilhados sobre a prateleira, Rebeca retirou um dos brancos, desfazendo a dobradura, até o colocar sobre meus braços, enquanto eu os descruzava. Agarrei aquele tecido com a mesma força de quem não tem ao que se agarrar e senti uma textura desagradável.

— O banheiro é ali. Você pode tomar um banho, se quiser. Vou providenciar uma toalha. Mas lembre-se que você não pode demorar!

Eu assenti. Enquanto esperava pela toalha, resgatei as minhas peças intimas de dentro da mala e entrei no banheiro com tudo o que precisava, quase tudo.

O Som da Solidão {EM HIATO}Onde histórias criam vida. Descubra agora