Bônus: Capítulo Narrado em Terceira Pessoa.

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Conceitos

A Madre Superiora era uma mulher madura, mas nem mesmo todos os seus anos juntos bastaram para que a mesma tivesse a experiência necessária para discernir a alma humana. Até onde seus olhos lhe permitiam enxergar, via em Benjamin um homem bem-sucedido.

Dinheiro e poder. Dois indícios de uma obrigação de ser feliz. Isto bastou para que ela acreditasse que faltaria lugar na capela naquela manhã. Mas ela estava enganada. É exatamente nesses momentos que você descobre que tem muitos conhecidos e poucos amigos. Diferente de quando promovia eventos e festas, ninguém parecia ter tempo para sentimentalismos. A caixa de e-mail de Benjamin e as suas redes sociais estavam lotadas de desculpas, enquanto ainda sobrava lugar na capela.

O espaço vago do lado direito, no primeiro banco de madeira, foi o lugar escolhido e ocupado por um homem que, a primeira olhadela, Melissa não reconheceu. Era fato que Benjamin já não era mais o mesmo homem, mas ele também não a reconheceu de imediato e isto a fez pensar que ela também não era mais a mesma. Já dizia Heráclito: "Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio. Isto porque quando entro pela segunda vez no rio, tanto eu quanto ele já estamos mudados".

Os seus olhos verdes estavam opacos, sem o mesmo brilho de antigamente. Também deveria estar pesando alguns quilos a menos e, embora tivesse fascínio pela cozinha, certamente cada ingrediente lhe lembrava Marcela, seus gostos e preferências e isto lhe deve ter roubado o apetite.

Como qualquer homem de negócios, Benjamin nunca se descuidou da aparência que para ele era algo importante demais para ser deixado de lado, pois isso refletia diretamente nos resultados. Não foram poucos os convites para estampar as capas de revistas nacionais. Mas quem gostava mesmo de fotos era Marcela. Ela se deleitava com esses convites. Gostava de exibir o marido para as amigas, mas não era por maldade, era amor e orgulho de tê-lo ao seu lado.

Definitivamente, ela não era uma mulher fútil. Acredito que ela era feliz. Benjamin, por sua vez, se contentava com a produtividade e o crescimento dos negócios. O que sempre intrigou, foi o fato de ele conseguir se manter no limite, ponderando a si mesmo até encontrar o equilíbrio ideal entre a vaidade e a simplicidade. Entre a ambição e a humildade. Talvez fosse esse o segredo do tempero de seus pratos. Ele tinha tudo para ser prepotente, mas quem o conhecia verdadeiramente, sabia do seu valor, pois sempre fora um homem honesto e gentil.

Apesar de ser um homem bondoso, Benjamin Fonteles desconhecia a beleza das coisas simples que a vida poderia proporcionar – de graça a qualquer pessoa disposta acreditar que com dinheiro podemos fazer coisas grandiosas, mas, com empatia, podemos realizar coisas maiores.

Como um bom cozinheiro, um chef renomado, se Benjamin ainda não aprendeu, ele certamente aprenderá esta lição mais cedo ou mais tarde durante a sua vida, pois, é como fazer um dos pratos servidos em sua rede de restaurantes: com ingredientes simples, você pode criar um prato sofisticado e, com os mesmos ingredientes, pode também fazer uma sopa e matar a fome de muita gente.


O Som da Solidão {EM HIATO}Onde histórias criam vida. Descubra agora