Capítulo 8

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Veracidade



Melissa:

O modo peculiar de bater as juntas e articulações ossudas na porta era de Rebeca. Pude constatar ao abrir. Estava estaqueada na abertura e a me ver recuar, ela deu um passo em frente sem necessariamente fazer o uso de palavras, até que decidiu revelar a razão pela qual estava ali.

— Precisamos conversar, Irmã Aparecida. Por favor nos dê licença, Irmã Ana Clara.

— É claro que sim, irmã Rebeca. – Clara responde, enquanto equilibra seu peso sobre os joelhos, ao levantar-se. Respirei fundo e endireitei a postura, assim como irmã Paulina havia nos ensinado como exercício nas aulas de canto. Senti meu diafragma subir e descer. Racionalizei a situação e pedi que Clara ficasse.

— Está tudo bem, irmã Rebeca. Clara pode ficar. Creio que não há nada que você possa dizer que ela não possa ter conhecimento. Somos irmãs e ela tem se mostrado ser dona de uma amabilidade única. Confio plenamente em sua pessoa e não existem segredos entre nós. — Disse segura e mostrando firmeza, sentindo que minhas palavras soaram com veracidade. Depois de encarar Rebeca, lancei o olhar para Ana Clara que parecia temer a resposta que estava sendo fabricada pela freira.

— Como queira, irmã Aparecida! Nós sabemos de sua ligação com a família Fonteles no passado, mas creio que não seja prudente uma noviça se dar ao desfrute de conversar com um viúvo, — jovem e rico — ela fez questão de frisar — diante da sociedade.

Com discrição, Ana Clara deu um passo para a direita, pisando em cima do jogo de chaves, que ficaram escondidas embaixo do habito.

— Perdão, irmã Rebeca. Eu me senti na obrigação de demonstrar meus sentimentos. Benja... digo, o Senhor Fonteles pediu para que eu removesse alguns pertences de minha falecida mãe de sua casa. Pedirei permissão para a Madre para ir até lá amanhã, mas depois disso é provável que nunca mais tenhamos contato algum, nunca mais. — As palavras soaram como uma promessa.

— A Madre tem coisas mais importantes para fazer. Entenda que o mundo não gira em torno de suas necessidades, minha querida. Além do mais, seu pedido não será visto com bons olhos. Lembre-se que você precisa estar no orfanato amanhã à tarde. A visita já foi agendada. Mas talvez... E se alguém fosse com você?

— O senhor Fonteles estará fora amanhã. Como sabe, ele é um homem muito ocupado. Mas os empregados estarão em casa para me receber. — Dizer aquelas palavras incertas, foi praticamente omissão. — Não vejo necessidade de incomodar ninguém. Como você mesma disse, o mundo não gira em torno das minhas necessidades. Pretendo ser breve.

Está certo. — Rebeca engoliu em seco, mas o aborrecimento estava presente em seu aspecto. —Você tem minha autorização para ir até lá. A visita no orfanato amanhã fica por minha conta. Você pode ir ao período da tarde, mas não se demore, estamos entendidas?

— Perfeitamente. Obrigada! Irmã Rebeca.

— Mais um coisa!

— Sim?

— Não se acostume com este tipo de regalia, Aparecida. Você não tem absolutamente nenhuma, eu disse NEN-NHU-MA preferência neste lugar. Somos o corpo de Cristo, e enquanto você fizer parte desta Irmandade, será tratada e cumprirá as normas e costumes como todas nós. Já lhe poupei demais. Eu fui clara? — As palavras revelaram o seu autoritarismo, e eu temi pelo meu cabelo.

O Som da Solidão {EM HIATO}Onde histórias criam vida. Descubra agora