Capítulo 19

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Incertezas

Melissa

Alguma vez, durante a sua vida, você já se esqueceu onde guardou algo?

Imagine se, de repente, você sofresse um acidente, batesse fortemente com a sua cabeça e por conta disso, esquecesse de tudo, inclusive de quem você é?

Ou quem sabe ainda, imagine se do dia para a noite você descobrisse que tudo que ouviu até hoje a respeito de sua própria história, não passasse de mentiras muito bem contadas?

O que você faria?

Eu surtei. E a pior ou a melhor parte disso tudo, foi ter sido consolada por Benjamin.

Já fazia algum tempo que eu vinha reparando em coisas diminutas e imperceptíveis aos olhos de quem nada sente. Comecei a perceber a felicidade quase pervertida que eu sentia interiormente ao vê-lo chegando. Lembro também, que eu até me policiava, mas confesso que era extremamente difícil conter os sorrisos despretensiosos que nasciam naturalmente no final de cada frase direcionada a ele. Juro por tudo que há de mais sagrado que tentava desesperadamente desviar meu olhar todas as vezes em que eu me pegava admirando as suas mãos masculinas e ágeis preparando qualquer tipo de refeição.

Houve um episódio em que Benjamin foi tomar banho, mas só mesmo depois de o ter feito, ele se deu conta de que havia se esquecido de pegar a toalha. Foi uma situação constrangedora e embaraçosa para mim, mas como se aquilo fosse algo corriqueiro, ele deixou a porta entreaberta e chamou pelo meu nome.

— Melissa? Oi?! Esqueci de pegar a toalha! Deixei em cima das peças de roupas dobradas em cima da cama. Será que você poderia fazer a gentileza de me alcançar? — Nesta ocasião, lembro que depois de pegar a tolha, dei dois passos em direção a porta do banheiro e enquanto uma de minhas mãos segurava a toalha, a outra tampava os meus olhos.

Os dedos dele deslizaram sobre os meus e depois de dizer obrigado e se passarem dois minutos em que fechou a porta, ele saiu lá de dentro enrolado nela, cobrindo apenas da cintura para baixo. Dava para ver que ele estava se cuidando. O peso normal de Benjamin havia se estabilizado novamente, pois estava se alimentando melhor e finalmente parecia ter reencontrado seu ponto de equilíbrio, já que havia voltado a treinar na academia, intercalando com corridas duas ou três vezes na semana, à noite.

Quando o vi seminu, ou praticamente pelado diante dos meus olhos, gritei tão alto que acredito que a vizinhança inteira tenha ouvido!

— Jesus! — Eu joguei a pilha de roupas dobradas que segurava em meus braços para cima, e levei a mão direita aos lábios os cobrindo. As peças voaram por cima dos meus ombros e minhas bochechas ganharam um tom rosado bem pigmentado. Queria olhar para baixo, mas meus olhos ficaram presos em seu maxilar, fizeram o contorno de seus ombros largos, desceram pelos braços longos e fortes que tinham montes que desejei escalar com a boca, antes de chegar aos cotovelos. Quando engoli em seco, tentei recuperar meu fôlego. Então pigarreei, enquanto tentava desviar meu olhar que por último, estava preso em seu peitoral, prestes a descer para a barriga que tinha gominhos que aparentavam ser mais deliciosos do que os de tangerina!

Depois de ouvir meu grito agudo e de ver as roupas no ar, Benjamin riu de mim. Foi a primeira vez que o vi rir de verdade. Mas fiquei furiosa e envergonhada. Juntei uma peça mais próxima que caiu sobre meus pés e joguei nele, que tentou se desculpar e enquanto ele falava, virei as costas e saí marchando.

Agora você pode entender as reações físicas que a presença de Benjamin provocava.

Os olhos dele em mim, esperando um veredito, julgamento, nota ou crítica para mais uma de suas criações me faziam imaginar coisas que me fazem corar ao pensar, quem dirá falar em voz alta. Ele pedia para que eu degustasse seus pratos enquanto eu ardia de desejo, imaginando o sabor dos seus lábios.

O Som da Solidão {EM HIATO}Onde histórias criam vida. Descubra agora