Capítulo 20

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Entrega

Benjamin

Mas o que tinha acabado de acontecer?

O que foi que ela fez? O que foi que fizemos? O que foi que EU fiz?

Isso precisa de um basta, passou totalmente dos limites. Eu deveria ter acabado com isso há muito tempo, mas acabei deixando para depois. Nossa convivência era boa, gostava da companhia dela, que com sua simplicidade tornava meus dias mais leves. Era como ter uma família de novo, um lar.

Nos tornamos tão amigos que chegava a ansiar pelas noites para que pudéssemos passar um tempo juntos na cozinha. Lá eu era eu mesmo e ela me via e ouvia. Uma pessoa extremamente paciente que tinha como melhor qualidade seu bom coração, que nunca me julgou.

O que eu deveria ter feito ao vê-la aos prantos jogada no chão? Depois de tudo o que ela fez por mim, o mínimo era auxiliá-la naquele momento difícil. Eu estendi a mão a ela, ofereci meus ouvidos e ombros. Só não contava que ela quisesse meu colo e minha boca. Que diabos!

O contrato era a solução, precisava quebrá-lo já que nele estava escrito claramente que não deveríamos ter contato. Precisava demiti-la. Isso soava tão mal, mas o pior seria continuarmos na mesma casa. Eu não estava conseguindo controlar minhas ações, estava me tornando um maluco, eu poderia machucá-la com meus atos e eu não poderia em nenhuma hipótese ferir aquela menina. Ela não merecia ter seus sentimentos confundidos, seus sonhos roubados, por um homem descontrolado como eu. Não estava em meu juízo, só poderia ser isso! Ainda não estava totalmente recuperado, foi idiotice. Precisava de ajuda psicológica, pararia de fugir dos médicos e dos tratamentos, do contrário poderia cometer novos erros e ainda piores! Meu Deus do céu! Se ela não saísse correndo o que eu não poderia ter feito? Não quero nem cogitar essa possibilidade! Meu Deus! Que irresponsabilidade!

Não sei quanto tempo fiquei no quarto dela pensando, mas me dei conta de que ela havia fugido e poderia estar muito magoada ainda. Necessitava esclarecer aquela situação e por um ponto final antes que eu não conseguisse mais raciocinar.

Decidido, subi ao meu quarto e procurei o contrato original que guardava na gaveta, li e reli algumas vezes, ciente do que estava fazendo, que era a coisa certa. Então comecei a procurar por ela na casa, indo primeiro ao jardim, depois no canil. Revirei alguns cômodos e não a encontrei, ela não estava em casa. Droga! Onde ela poderia ter ido? E se tivesse se enfiado na frente de outro carro? Seria totalmente minha culpa e eu não me perdoaria! Alucinado, peguei as chaves e saí com o carro, cuidando as ruas que eu sei que ela costumava andar com os cachorros. Quando consegui pôr a cabeça no lugar, lembrei do convento, sua antiga casa e dirigi para lá, cantando os pneus em cada curva.

Por que eu tinha pressa? Qual o motivo do meu desespero? A segurança dela importava e eu poderia ter a colocado em risco. Além do mais precisávamos conversar; uma conversa definitiva, esclarecendo todos os pontos, todas as linhas e entrelinhas, não poderia haver qualquer resquício de dúvidas. E eu devia a ela um pedido de perdão.

Estacionei bruscamente, nem me importando se o carro estava alinhado ou não, e corri, vencendo a curta distância até o portão do convento e da capela. Abri sem dificuldades, pois estava aberto e caminhei, buscando acalmar minha respiração pelo caminho florido do jardim. Porém estanquei ao ouvir sons distantes, semelhantes a miados de gato. Era um choro e vinha da lateral. Desviei meu trajeto seguindo o som que tentava ser contido, mas eu o conheceria em qualquer lugar, já que havia o escutado há poucas horas.

Me sentindo um intruso, me embrenhei pelas plantas e árvores que povoavam os fundos da capela e mais adiante avistei duas pequenas silhuetas sentadas à sombra de uma figueira. Me aproximei, cauteloso e pensei que se elas estivessem tentando se esconder, estavam falhando, porque qualquer um poderia ouvir suas vozes.

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⏰ Última atualização: Feb 22, 2018 ⏰

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