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Maciel Andrade
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Desde quando vim parar aqui que me sinto mal, já faz três dias que eu tô aqui, já faz três dias que eu apanho de policiais, três dias de um sofrimento sem fim, de ter sono e não poder fechar os olhos com medo de morrer, de ter que aguentar socos e chutes a cada minuto aqui dentro, aqui sem dúvidas ta sendo pior do que na casa da maldita.

Acho que tá na hora de parar de lutar, tá na hora de parar de pensar em quando terei paz, eu nunca irei ter paz, nunca.

Eu sei disse porque em anos eu vivo assim, em anos eu venho penando e desejando amor de pessoas que pra falar a verdade são monstros, a cada pesadelo, a cada batida rápida do meu coração, a cada chutes, a cada socos, a cada lágrimas e a cada gritos de dor, é um pouco de esperanças que vai embora.

Em mim já não existe mais nada, ja não resta nada, a não ser dor, a não ser cortes, cortes feitos profundamente na alma e cortes que jamais sicatrizaram.

Nesse momento estou apanhando desses filhos da puta, por não ter deixado estuprar Annenha, uma menina de três anos aqui do "Orfanato" onde vim parar e irmã de João.

Eu ouvir annenha chorando e corri a tempo de não deixar aqueles vermes fazer uma coisa dessas com ela, ao ver aquilo uma cena passou pela minha cabeça e se instalou em meu coração o enchendo de ódio, eu não podia deixar que fizessem com ela o que um dia fizeram comigo, não com ela, não na minha frente.

Parece que meus gritos de dor deixam eles ainda mais feliz em saber o que eu tô sentindo, em saber o que eu tô passando, mas por hoje esse sofrimento acaba.

João- SOLTA ELE __ João grita alto.

Polícial- Se não o que ? __ Fala com voz grossa.

- Se não, isso. __Do chão mesmo dei um chute em meio as suas pernas com toda minha força fazendo o Policial cair de dor no chão, enquanto João chutou em meio as pernas de outro policial.

Fui rápido e peguei a arma que tava em um dos policiais ao chão e atirei sem dó nem piedade nas pernas de um dos polícias que estava lá presente e saímos correndo.

-Pega a Annenha, pega ela__ gritei a João correu pegando Anne em seus braços e juntos corremos.

Logo estávamos fora do orfanato em uma rua estranha que nunca havia visto antes, mas estávamos feliz de está fora daquele inferno.

João colocou Anne no chão e caminhamos juntos, olhei pra trás pra certificar de que não estávamos sendo seguidos, mas infelizmente estávamos.

-Corre, Corre, Corre__ gritei e nós três corremos.

Ouvir vários desparos, Anne corria a minha frente e João logo atrás.

João- Ma..Maciel __chamou fraco e de imediato olhei pra trás.__ Maciel Corre__mandou__ me deixa aqui__ João estava no chão cheio de sangue__Corre Maciel  __ mandou__ cuida da Anne. __ chorou.

- Eu não vou sem você, João__ voltei para busca-lo, os policiais estavam perto, estavam cada vez mas perto.

João- Maciel, Vai__ deu uma pequena pausa__ Vai por mim, pela Anne__falou__ co..corre Maciel.

- Não__Chorei__ NÃO __grite e fui pra perto do meu amigo que estava lá naquele chão cheio de sangue.

João- Você foi meu melhor amigo__ disse__ eu não consigo mais, eu não consigo seguir em frente__ ele falava tudo rápido demais, a gente falava rápido, mas infelizmente não tínhamos tempo, a rua lotou de gente impedindo a passagem dos policiais e eu agradeci por isso.__ Cuida da Anne__pediu__ cuida da minha irmãzinha__ deixou uma lágrima escapar__Eu te amo__ chorou__ eu amo vocês__ disse.

-Eu te amo, irmão__ chorei__ nós amamos você__ lhe abracei.

João olhou Anne e em seguida sorriu para a mesma.

Eu sentir seu corpo pesar em meus braços, sentir ele indo embora, seus olhos pararam lentamente e alí eu sabia que era o fim daquele garoto que conheci a três dias atrás, daquele garoto que foi meu amigo por exatamente três dias, que dividiu comigo uma dor durante três dias.

-NÃOOOO__Uma gota de água caiu em meu rosto e logo em seguida misturou-se com minhas lágrimas.

Ouvir um tiro ser lançado ao céu e as pessoas começaram a correr, olhei pra frente e tinha vários policiais, alguns sorrindo e outros não.

Aproveitei a distração deles, peguei Anne em meu colo e sair correndo entrando em ruas e mais ruas, infelizmente as ruas do Rio de Janeiro parece não ter fim.

Deixar meu amigo pra trás não foi fácil, deixar o corpo do meu amigo pra trás não tá sendo fácil, infelizmente minhas lágrimas estão caindo sobre meu rosto e se misturando com a chuva forte que agora cai molhando meu corpo e o corpo de Anne que tão inocente sorrir pra tudo isso.

Agora a chuva de um verdadeiro e guerreiro anjo cai molhando todo o Rio de Janeiro, o céu chora, quando na verdade deveria está feliz por ter ganhado mais um anjo lindo lá em cima.

- Essa é sua chuva meu irmãozinho__ falei__ olha por nós aí de cima__ chorei__ eu nunca vou esquecer você.__ olhei para o céu e parei de andar, fechei os olhos sentindo respingos fortes caírem no meu rosto.

Coloquei Anne no chão e peguei em sua mão caminhando junto a ela.

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Foi Na FAVELAOnde histórias criam vida. Descubra agora