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Maria Liara
Lia
__

Vi ele tirar sua camisa a jogando no chão e arregalei os olhos, não meu Deus, me ajuda, isso não, de novo não. Pedi a Deus em pensamentos e passei a da passos para trás na medida em que ele caminhava em minha direção, mas foi inútil assim que eu sentir meu corpo cair em cima da cama, sentada, fechei meus olhos com força por um tempo, até sentir minha mão em algo áspero e ouvir a voz rouca de Maciel logo após ele suspirar alto.

Maciel- Abra os olhos __ Ordenou

Abrir meus olhos devagar e vi que minha mão estava em seu peitoral coberto por tatuagens grandes e sem sentido.

-O...o que é isso ?__Gaguejei

Maciel- Marcas que a vida deixa __ Disse __ Po...pode passar a mão __ ele virou a cara e fechou os olhos.

Passei minha mão suavemente pelo seu peito e ouvir seu sussurros altos.

Maciel- Eu tinha 6 anos quando começou __ sussurrou de jeito que eu conseguia ouvir __ Meu pai havia morrido, na verdade eu achava que ele tinha morrido, ele era a melhor pessoa pra me, ele tentava __ deu uma pausa __ Minha mãe botava a culpa de sua morte em mim, ela entrou nas drogas, fumava e bebia todos os dias, eu que tinha que ir pro sinal, conseguir dinheiro pra sustentar seus vícios, nem sempre eu conseguia algo, era esses dias que ela me batia, eu sentir por dias, minha mãe, minha maldita mãe, me bater, sentia todos os dia aquela puta desgraçada tacar me cabeça no chão, sentia todos os dias, ela me machucar com todas as coisas de Ponta que ela achava, ela começou a me bater todos os dias aos 8 anos de idade, eu ja não aguentava mais, eu morria todos os dias eu sentia__ Sentir as lágrimas banharem meu rosto e fechei os olhos __ Minha mão pequena bate no vidro do carro __ Ele soluçou assim que começou a cantar uma música que eu nem sabia que existia __ Nos braços se destacam queimaduras de cigarro, a chuva Forte ensopa a camisa e o short __ ele sorriu e parou de cantar __ Eu lembro que dias de chuva, eram os melhor dias, eu lembra que sentia a água da chuva lavar minha alma, ela vinha do cara lá de cima __ apontou pro céu __ Qualquer dia pneumonias me fazia tossir até a morte, uma moeda, um passe, me livre do inferno, me faz chegar em casa e não apanhar de fio de ferro, O meu playground não tem balança, escorregador, só a mãe batia perguntando quanto você ganhou Jogando na cara que tentou me abortar, que tomou umas 5 injeções pra me tirar Quando eu era nenê tentou me vender uma pa de vez, quase fui criado por um casal inglês__ Ele parou por um momento e me olhou __ Acho que seria melhor, acho que se ela tivesse me dado pra alguém, eu teria uma vida melhor __Disse __ Essas marcas, nunca vão sair do meu corpo __Ele segurou minha mão __ No final de tudo __Vi lágrimas escorrer de seus olhos __ Ela encontrou um cara, ele dava dinheiro a ela pra ela deixar ele me estuprar__Virou as costas pra me e eu corrir em sua direção abraçando suas costas. __ Foi ai que eu criei coragem, eu peguei uma das várias armas que ela guardava ali e matei os dois, eu fugi daquela casa, Eu, Tia Márcia e Davi __ Disse e parou um pouco pra suspirar__ A gente vagou pelo Rio, até chegar na Rocinha, foi quando eu conheci o Marlon, o melhor homem que conheci em toda minha vida, ele era meu pai, não de sangue, mas ele era, em uma invasão, eu fui pego e levado pra um orfanato, foi onde conheci João, ele era irmão da Anne e a gente fugiu, eu e Anne conseguimos sair de lá, mas eles mataram João __ chorou alto e eu sentia a dor dele ali __ Aqueles filhos da puta mataram meu irmão __ Disse entredentes__ Mais uma vez eu me vi vagando pelo Rio, eu e Anne, foi quando eu conheci a Nanda, ela me tirou da rua e me ajudou, me deu um teto e tirou do bolso dela pra botar no meu, foi aqui que eu vi meu pai, o de sangue, ele não estava morto, até eu matar ele, ele me afundou, me batia todo dia, matou o Marlon e a mulher do Marlon, e eu matei ele, ele era dono desse Morro, eu matei aquele filho da puta e virei rei, tu não sabe o quanto eu ansiava pelo fim do sofrimento, eu só queria que isso acabasse, foi quando eu te conheci, porra, tu fodeu com a minha vida, eu odiava pensar em tu todo o tempo__ele virou e segurou meu cabelo__ Nunca ninguém ficou comigo por muito tempo a não ser Nanda, tu ficou, eu sou um Maldito, um maldito, Liara, eu fodi a tua vida, te botei em uma obrigação que não era tua __ Chorou __ Eu fiz igual eles, eu havia prometido não sei igual eles, eu falhei __ Tirou suas mãos do meu cabelo e se afastou

Maciel, me deu as costas e saiu rápido batendo a porta do quarto sem em deixar falar nada, eu fiquei lá parada, tentando engolir o bolo que havia se formado em minha garganta.

Foi Na FAVELAOnde histórias criam vida. Descubra agora