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Maciel Andrade
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O carro estava todo amassado, me abaixei e tentei abrir a porta de trás onde estava a minha mulher mas a desgraça tava emperrada ou travada.

O carro estava de cabeça pra baixo, sou ignorante de pensar assim, talvez carro não tenha cabeça, mas o que adianta ficar pensando nesse nervosismo vendo que minha mulher está lá dentro talvez de cabeça para baixo com meu filho prestes a nascer ou talvez mortos.

Me desespero ainda mais, há apenas eu aqui em sã consciência e sendo egoísta por pensar apenas em duas pessoas que pertencem a mim, mas tô nem ai, o resto que se fodam.

Peguei uma pedra grande de calçamento e corrir pro outro lado do carro, taquei com tanta força aquela pedra no vidro do Banco de passageiro que vi o vidro rachar de imediato.

Sempre foi muito intenso, nunca duvidei de nenhuma das palavras da mina, mas acho que cada coisa que me falaram dela viraram um bola em minha cabeça, me deixava furioso em pensar ela nos braços de outro, me deixava furioso, me fazia bater nela, mesmo nunca acreditando em nenhuma palavra, mas minha raiva sempre foi intensa, ela era quieta de mais, era inocente de mais para algo tão rápido assim, e a dor que ela sentia, eu podia ter certeza que ela não teria confiança em ninguém.

Entrei naquele carro depois de ter quebrado o vidro e me vi em desespero, vi ela sangrar e uma pequena porça de sangue de formando em baixo de sua cabeça, seus cabelos pingavam sangue, em suas pernas havia um líquido transparente escorrendo e molhando sua barriga, que também estava completamente banhando de vermelho.

Eu não conseguia pensar em mais nada, o cheiro de gasolina tomou minhas narinas e vi que já tava demorando tempo de mais, apoiei sua cabeça e meu braço direito e com o esquerdo destravei o cinto de segurança.

Dei um chute tão forte na porta ja com ela em meus braços fazendo a porta abrir com tudo e sair apressado com ela em meus braços, mas a culpa pesou em meus ombros, ele estava tentando ajuda-lá mesmo que eu o tenha pago, mas ele tentou ajuda-lá, deixei a mina no chão um pouco afastada e corrir até o carro, eu me culparia se não conseguisse o tirar dali, vi alguns carros parar no acostamento e vários homens correr até nós.

Eu ainda chorava muito, entrei rápido no carro que saia fumaça e o vi acordado.

Xx-Mi..minha per...na__tossiu __ Tá, tá presa __ gaguejou

-Eu vou puxar __ falei rápido __ Eu vou puxar__ repetir desesperado.

E puxei logo em seguida ouvido o homem gritar alto demais.

-AJUDA ELA __ gritei para as pessoas que estavam ali e apontei para Lia fazendo-os vê-lá.

Puxei novamente a perna do homem e ouvir ele gritar mais uma vez, seus gritos eram de dor, sua respiração ofegante se misturou com a minha, seu corpo tremia, eu podia sentir, sentir ele tremer a cada minuto ali dentro.

Xx- Ai meu Deus __ chorou __ esse carro vai explodir __ disse desesperado__ Sa..sai daqui, sai __mandou __ Cuida dela do teu filho, se salva, eu não vou conseguir__ disse.

-Não __ chorei __ Eu nunca sentir tanto peso em meus ombro como irei sentir de te deixar aqui __ puxei sua perna.

Xx- Você vai morrer __ disse.

-Vai ser melhor pra todo mundo, pra ela __ sentir meu coração apertar__ Eu vou puxar __ Falei e em desespero puxei sua perna com toda minha força.

Seu grito saiu alto e agudo, destravei mais que depressa seu cinto de segurança e o vi cair no teto do carro, puxei-o para fora do carro tão depressa que assim que sentir o vento em meu rosto agradecir a Deus por conseguir sair daqui.

10 passos, 10 pequenos passos foram dados antes de um estrondo alto preencher meus ouvidos e uma força incomum me jogar pra longe com aquele cara, sentir meu corpo todo doer, minha vista ficar embaçada, mas dessa vez sentir que não eram as lágrimas em meus olhos, sentir como se minha alma saísse do meu corpo, meus olhos pesaram e eu os fechei sentindo como se minha cabeça estivesse anestesiada, mesmo com meus olhos fechados, sentir minhas mãos dormentes e depois disso, ouvir alguns gritos e apaguei completamente.

(...)

Abrir meus olhos que doiam como se eu estivesse com muito sono, mas logo os fechei ao sentir a luz bater de frente com eles e, abrir logo em seguindo fazendo com que eles se acostumassem com aquela claridade infernal, o barulho alto de passos infernizava minha cabeça fazendo ela doer como um aperto, não sei ao certo, aquele barulho baixo de água pingando me fazer querer quebrar qualquer torneira que estivesse ali, mas sentir meus olhos pesarem novamente e, como se não bastasse, eu não aguentava ficar com eles abertos, mas nada fazia sentido na minha cabeça, deixei meus pensamentos de lado e deixei aquele sono maldito me tomar por completo.

Foi Na FAVELAOnde histórias criam vida. Descubra agora